Coragem... Numa interpretação mais imediata, a palavra coragem nos remete à figura de atitudes intrépidas, de homens que enfrentaram a morte no campo de batalha, de pessoas que desafiaram o perigo para salvar algo ou alguém. Ou então, coragem nos lembra os esportes radicais, as façanhas físicas de pessoas em busca de emoções intensas. Curioso notar que muitas vezes o conceito comum de coragem se misture com o conceito de imprudência. O que é coragem para uns, é imprudência e falta de bom senso para outros.
Coragem também nos lembra os santos e heróis, pessoas de espírito resoluto que enfrentaram as convenções do mundo com firmeza e deixaram um legado de excepcionalidade. Coragem nos lembra os grandes conquistadores, os mártires, os reformadores, os revolucionários. Che Guevara, Gandhi, Martin Luther King, Abraham Lincoln, Tiradentes, Joana d’Arc, Marco Pólo, Paulo de Tarso, Napoleão, Lutero, Karl Marx, Alexandre, O Grande, Simon Bolívar, Madre Tereza, entre outros.
Contudo, existe uma coragem que foge aos louros do reconhecimento, uma coragem que não consta nos livros de história e na tradição oral das civilizações. Uma coragem que não traz ao mundo grandes mudanças, não contraria as regras da sociedade e não repercute nos noticiários. Uma coragem anônima, cujos resultados vivem quase que exclusivamente dentro do coração de quem a possui. É dessa coragem que eu gostaria de falar aqui.
Viver nesse mundo não é tarefa fácil. Não só pelos desafios que a sociedade humana nos impõe, como a violência, a fome, a poluição, a desonestidade. Mas pelos desafios íntimos de cada dia, pelas tarefas que temos que desempenhar no nosso cotidiano, pelo exercício de nossa vontade.
Na vida adulta, muitas são as responsabilidades e deveres, que não se limitam à esfera material. Temos, pela consciência própria, um mundo de escolhas que nos pedem atitudes corajosas, porque estamos acostumados com o caminho mais fácil. Nosso histórico como seres humanos nos impulsiona naturalmente ao egoísmo, ao orgulho, à vaidade, à indiferença, ao abuso, à violência, à preguiça, à procrastinação, à vantagem pessoal, ao julgamento alheio, à promiscuidade, à ociosidade. Romper com esses padrões não é atitude simples, mesmo porque as nossas falhas em seguir a nossa consciência não são testemunhadas por ninguém. Nossos desvios podem sempre nos levar à auto-indulgência, afinal de contas, “ninguém é perfeito”.
É sempre preciso coragem.
Coragem para amar os outros. Coragem para expressar amor. Coragem para seguir os impulsos do coração. Coragem para olhar nos olhos. Coragem para dar carinho. Coragem para receber carinho. Coragem para dizer que ama.
Coragem para amar a si mesmo. Coragem para aceitar aquilo que somos. Coragem para cuidar do próprio corpo. Coragem para aprender. Coragem para se fazer o que gosta. Coragem para ser feliz sem pensar na opinião alheia.
Coragem para começar um novo dia. Coragem para deixar o passado ir embora. Coragem para acreditar e construir um futuro melhor. Coragem para viver o presente.
Coragem para enfrentar a morte de alguém querido. Coragem para acreditar que a vida continua sempre. Coragem para enfrentar as doenças, os vícios e os infortúnios da sorte. Coragem para amar a vida, do jeito que a vida é.
Coragem para ser amigo. Coragem para confiar nos outros. Coragem para ser sincero. Coragem para dizer a verdade. Coragem para compreender. Coragem para aceitar o outro como o outro é. Coragem para não julgar.
Coragem para ser honesto. Coragem para dar o exemplo. Coragem para assumir o risco de errar. Coragem para assumir o risco de acertar. Coragem para assumir o risco de viver.
Coragem para acreditar que existe um Pai que nos ama.
Coragem, coragem, coragem.
Desejo a todos vocês que a coragem seja uma companheira em suas vidas.
Desejo que, por mais minguada que esteja a esperança, vocês acreditem que o amanhã há de ser melhor.
Desejo que vocês possam viver cada dia com a alegria que lhes é merecida.
Nada como um dia depois do outro.