domingo, 1 de julho de 2012

Companheirismo


Viajar, sair da rotina de lugares e pessoas conhecidas é recurso de inestimável valor aos que desejam renovar ideias, pensamentos e sentimentos.

Mirante do Morro do Buracão - Alto Paraíso de Goiás, GO

Num país imenso como o nosso, cujo território chega a ser mais de quinze vezes maior do que o da França, é certo que a diversidade de climas, relevo, fauna e flora é algo que escapa aos sentidos dos que se acotovelam no infindável cinza de uma poluída metrópole como São Paulo. É notória a diferença, neste caso, entre o saber e o viver. O orgulho erudito de alguns, da realidade conhecida por imagens e palavras, não faz frente à brisa morna acalentando o rosto numa tarde simples, em que os montes, vales e flores cortam as certezas num horizonte cuja beleza não se anuncia, se vende ou se ostenta. O belo, realidade do olhar, apenas existe e convida, acrescentando ao viver a carga de transformação que é proporcional ao terreno inculto do sentir que cada um permite-se cultivar.

E nessa diversidade, que pensar das almas que se espalham nesse universo de possibilidades? Quanto mais conheço, mais me fascina o brilho que anima os olhares, corações e mentes em cada pequena composição de variáveis que faz de uma localidade geográfica um novo mundo aguardando por nosso olhar e nosso coração.

E cada brilho, único, presenteia ao sentimento desperto uma centelha que agrega à lembrança o fulgor de uma vida que não se define sob a lógica cartesiana da nossa intelectualidade pueril, mas, sim, escorre por entre os lapsos de imortalidade que nossas almas se permitem experimentar.

Nessas idas e vindas, gostaria de compartilhar um episódio ocorrido na última viagem que fiz, durante trabalhos sociais em escolas, protagonizado pelo pequeno Pedro, de Irecê, na Bahia.

Inquieto e curioso, no primeiro contato ele se mostrou avesso à certa docilidade comum dos meninos da sua idade, em torno dos 7 anos. Não queria muito conversar, mas mexer e explorar os aparatos e novidades que seu olhar perquiridor identificou junto aos simpáticos forasteiros. Diferente dos outros meninos, Pedro não se intimidava pelo tamanho e pela idade dos adultos, e parecia viver na plenitude das certezas que sua mente infantil em formação permitia a ele vivenciar. Um menino travesso e inteligente, que alguns incautos poderiam categorizar à guisa incorreta de “mal educado”.

Horas passadas de convivência, Pedro afinou-se comigo e passou a acompanhar minhas atividades, já mais carinhoso e companheiro. Em determinado momento, durante atividade de encerramento dos trabalhos, em que juntos presenciávamos a premiação a certas atividades, ele disse que estava com sede e queria beber um refrigerante. Respondi que não tinha refrigerante na escola. Ele disse que por dois reais ele compraria na venda da sua tia, ali por perto. Perguntei se era verdade e se ele estava mesmo com sede. Ele não pestanejou e disse que sim. Pensei por um instante na alegria relativa que ele poderia ter, uma vez que o dinheiro não é recurso abundante em sua realidade simples. Abri a carteira e dei duas moedas de um real. Ele sorriu e desapareceu entre os outros meninos na penumbra da noite.

Logo após, fui solicitado a comparecer à sala dos professores, em que haveria uma pequena comemoração do aniversário de um de meus companheiros de trabalho.
Já na sala, repleta de adultos, comemos um delicioso bolo, preparado por uma das professoras. Num certo momento, vi que um professor, postado à porta da sala, para impedir a entrada das crianças, barrava um pequeno menino. Carregando uma pequena sacola plástica, ele parecia não querer ceder à proibição de entrar na sala. Olhei com atenção: era o pequeno Pedro, que estava a minha procura. Fui até ele. Trazia em sua sacolinha uma lata de refrigerante. Eu disse que era para ele abrir e beber, pois estava com sede. Aí veio a minha surpresa e a luz de sua resposta: ele disse que não iria tomar sem a minha companhia e iria esperar do lado de fora até terminar a comemoração em que eu estava. Fiquei realmente tocado pela situação... Depois do momento em que dei os dois reais a ele, minha mente já tinha desenhado a cena dele refrescando-se e divertindo-se em algum lugar com seus amigos. Aí a vida vem e quebra os nossos orgulhosos paradigmas.

Saí da sala dos professores e Pedro me conduziu a um pequeno banco, onde sentamos. Ele tirou do bolso uma das moedas e me devolveu, sem dizer nada. Tirou da sacolinha a latinha e dois copos de plástico e pediu que eu abrisse a lata. Postou os copos sobre o banco aguardando que eu os preenchesse.

Não há aqui palavras para descrever o que fora aquele momento, muito menos o olhar de satisfação no rosto daquele pequeno ser. Sua sede não era egoísta e muito menos infantil. Sua atitude, muito maior do que a minha. Eu dei duas moedas e recebi uma lição de amizade e companheirismo. Visualizei um menino e encontrei o tesouro de uma bela alma. Quantos de nós, adultos, não saciariam a sede na primeira oportunidade, sem pensar em mais nada? 

Bem, a vida é assim, nos presenteando com lições saídas de onde menos esperamos, por meios que, se não tivermos olhos de ver, nos passariam despercebidos. 

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Musica

A música sempre teve forte influência na minha vida, como imagino ter também na vida de muitos outros. Existe uma “trilha sonora” pronta em minha mente para cada ocasião. Quando preciso trabalhar, escuto um tipo de música; quando quero relaxar, outro tipo; quando estou pensativo, outro tipo; quando estou agitado, outro tipo; quando estou triste, outro; quando estou com raiva, quando estou contente... e por aí vai. A música costuma ter o poder de driblar as nossas defesas racionais e se conectar diretamente com as emoções, e por isso se torna um valioso recurso quando não estamos conseguindo mudar a nossa sintonia apenas pelo esforço intelectual.

Quantas vezes, depois lutar por algum tempo no nível mental para sairmos da tristeza, por exemplo, conseguimos modificar a sintonia colocando uma música alegre? Ou conseguimos sair do stress ouvindo uma música tranqüila?A música envolve, naturalmente, energias magnéticas que a maioria desconhece. Respeito todas as manifestações musicais, embora tenha preferência por alguns gêneros. Um dos tipos de música que mais me agrada é aquele em que a letra e a melodia se unem com um fim positivo, motivador. Nesse universo, minha artista favorita é a Jo Dee Messina.


Sempre sensível e positiva em suas letras e músicas, ela nos fala de sentimentos, de modo leve e envolvente, muitas vezes insuflando coragem e ânimo aos corações aflitos e tristes sem, contudo, abrir mão da melodia agradável e bela.

Nesse meu momento em especial, de renovação e esperança, ela tem sido minha companheira de quase todos os dias.

Segue abaixo uma das minhas músicas favoritas. Se desejar, pode baixá-la clicando aqui.

Bring On The Rain

Another day has almost come and gone
Can’t imagine what else could wrong
Sometimes I’d like to hide away somewhere and lock the door
A single battle lost but not the war (‘cause)

Tomorrow’s another day
And I’m thirsty anyway
So bring on the rain

It’s almost like the hard times circle ‘round
A couple drops and they all start coming down
Yeah, I might feel defeated,
I might hang my head
I might be barely breathing - but I’m not dead

Tomorrow’s another day
And I’m thirsty anyway
So bring on the rain

I’m not gonna let it get me down
I’m not gonna cry
And I’m not gonna lose any sleep tonight
Tomorrow’s another day
And I’m thirsty anyway
So bring on the rain

Que venha a chuva (Tradução minha)

Mais um dia está quase terminando
Não consigo imaginar o que mais poderia dar errado
Às vezes eu gostaria de me esconder em algum lugar e trancar a porta
Uma única batalha perdida, mas não a guerra (porque)

Amanhã é um novo dia
e estou sedenta de qualquer jeito
então que venha a chuva

É quase como se os tempos difíceis me cercassem
Alguns caem e eles todos começam a cair
Sim, eu posso me sentir derrotada,
eu posso baixar a cabeça,
eu posso estar mal respirando – mas eu não estou morta.

Amanhã é um novo dia
e estou sedenta de qualquer jeito
então que venha a chuva.

Eu não vou deixar isso me derrubar
Eu não vou chorar
e eu não vou perder o sono esta noite
Amanhã é um novo dia
e estou sedenta de qualquer jeito
então que venha a chuva.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Recomeçar

Eis que depois de longo inverno algumas tenras folhagens aventuram-se a sair de debaixo da neve.

Há tempos que não surgem palavras novas por aqui. Que essa ausência seja apenas um ciclo de transformação. Sem casuísmos de qualquer espécie, apenas a realidade da vida em sua plenitude.

É certo que em muitos momentos a paisagem se cobre de neve, onde antes imperava o colorido das flores e a grama verde a perder-se de vista. Na Natureza, entretanto, nos parece lógico que a mudança é temporária e que a estação do frio traz em si características únicas e belas.

O inverno tem começo, meio e fim, assim como qualquer outra estação. Sabemos que o frio não vai durar para sempre. E quando o Sol volta a brilhar e as primeiras flores surgem, sabemos que elas vêm para ficar.

Temos sempre a aprender com a Natureza!

Que seja este o momento da esperança. Não da esperança frágil, baseada em premissas intelectuais a que nos moldamos mecanicamente, mas a esperança do coração, do sentimento que sabe, em suas vivências, que a vida é feita de ciclos.

Esperança, firme e forte, a nos elevar acima dos pequenos horizontes temporais a que nos aprisionamos.




Esperança!

Desejo a todos um ótimo começo de ano!

terça-feira, 28 de julho de 2009

Ainda sobre o medo

Já falei aqui sobre o medo anteriormente.


Penso que o que realmente nos amedronta não é o concreto, o real. O que nos amedronta é a imagem que criamos de um obstáculo, de uma situação desfavorável. Criamos uma imagem muito pior do que a realidade de fato é. E nos apegamos a essa imagem com tal volúpia que ela se torna real para nós.

A criança que teme o escuro cria para si mesma monstros que são reais e horríveis. Assim como crianças, também seguimos a irracionalidade e criamos os nossos próprios monstros.

O medo de ser traído num relacionamento pode criar situações que não existem.
O medo de que o filho se machuque pode criar perigos improváveis.
O medo da violência pode criar bandidos e malfeitores em pessoas honestas.
O medo de se decepcionar pode criar defeitos e problemas que não existem.
O medo de fracassar pode criar obstáculos e deficiências que não existem.

Eu, particularmente, não aceito viver com medo. Se percebo que ele está obscurecendo minhas opções, se está criando sombras onde não existem, eu acendo uma luz. Eu enfrento. A coragem costuma separar o que é real do que é imaginário.

De pequeno, depois que aprendi a levantar da cama e acender a luz quando ficasse com medo, nunca mais acreditei que existissem monstros escondidos nas sombras do quarto. E percebi que os piores obstáculos são os que surgem antes da coragem de enfrentá-los.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Muito barulho por nada


Queria escrever sobre o fracasso. Qual não foi minha surpresa quando, de início, parti para a ajuda do dicionário: a primeira acepção do termo não é o que eu imaginava que fosse e, decerto, o que a maioria das pessoas imagina.

Fracasso: Subst. masculino
1- som estrepitoso provocado pela queda ou destroçamento de algo; barulho; estrondo.

Fracasso é derivado de fracassar, que, segundo o Houaiss, se origina do termo italiano fracassare (a1306) 'destroçar, despedaçar, quebrar com estrépito'.
A segunda acepção, por extensão de sentido, decorre da primeira:
2- falta de êxito; malogro; derrota.

Imagino que atualmente o termo seja mais usado com o seu segundo sentido. Por quê? Será que se deve à tradição humana, usualmente voltada para a interpretação negativa dos fatos, roubando de um acontecimento concreto – a quebra de um objeto e o som produzido por essa quebra – a definição para a avaliação subjetiva de um fato? Ora, um ruído de algo se quebrando pode ser um bom presságio, uma comemoração, um momento feliz...

Divagações à parte, o segundo sentido para fracasso tem caráter subjetivo e depende da avaliação pessoal de cada um. O que é falta de êxito para um, é sorte para outro; o que é derrota para um, é vitória para outro. De modo geral, costuma prevalecer a visão negativa.

Todo erro enseja um ensinamento. Todo erro é proveniente de uma ação. E sabemos, não há progresso sem ação. Não há vitória sem atitude. O melhor não nasce pronto. A obra-prima não surge do primeiro contato com o pincel.

O grande inventor não acordou numa bela manhã e construiu a lâmpada elétrica. Com certeza sofreu centenas de “derrotas” antes de conseguir o que desejava. E foi justamente dele que surgiu a célebre frase:
“Gênio é fruto de 99% de transpiração e de 1% de inspiração.”

E nós, como nos comportamos? Estamos esperando a lâmpada elétrica na primeira, segunda ou terceira tentativa? Ou, nos achando “pacientes”, tentamos até a décima vez antes de admitirmos a derrota?

Hoje é fácil dizer que Edison era um homem genial. Mas será que a gente teria a mesma lâmpada elétrica hoje, caso ele tivesse desistido na décima tentativa? Caso ele tivesse sido derrubado pela autocrítica e desistido? Acaso saberíamos quem foi Thomas Edison, se ele tivesse duvidado de si mesmo?

E o que seria de Beethoven, se ele tivesse se revoltado e desistido das lições de piano impostas pelo pai? O que seria do jovem Einstein se ele saísse da escola, onde tinha notas medíocres, e se achasse incapaz de progredir nos estudos? Se ele se achasse menos que os outros?

É fácil julgar a história olhando de trás para frente. Mas quando as coisas acontecem, o êxito depende somente de cada individualidade, no momento em que ela decide qual caminho quer seguir. Não importa o tamanho do erro. Todos temos a escolha: continuar e aprender com o engano, ou nos lamentarmos e estagnarmos no abismo do remorso, da culpa e da autopunição.

Certo, alguns podem pensar que os chamados gênios tinham algo de especial. Então analisemos o esporte, por exemplo.

Hoje assistimos, maravilhados, um patinador deslizando sobre o gelo numa competição internacional. Ah, que dom! Imaginamos que ele nasceu com patins nos pés e apenas foi desenvolvendo a arte, certo? Ou será que ele caiu diversas vezes? Ou será que ele um dia já foi um iniciante, desajeitado? Será que ele já não foi motivo de vergonha para seus professores? Será que alguma vez ele já duvidou de si mesmo? Com certeza em algum momento ele fracassou. Mas, se hoje ele é um vencedor, foi porque soube perceber que não existem fracassos. O fracasso existe apenas na mente dos que não desejam progredir. Tudo pode resultar em aprendizado. E o aprendizado liberta.

Nós, seres “comuns”, o que temos feito de nossas vidas? É certo que todos cometemos erros. Mas como estamos reagindo diante dos nossos erros? Estamos afundando na autocrítica exacerbada, nas culpas paralisantes? Estamos deixando os patins de lado, pelos escorregões que tomamos? Tudo depende de nossa postura, das nossas escolhas.

E a vida ainda é tão maravilhosa que, quando decidimos ir em frente, quando estamos dispostos a enfrentar as conseqüências de nossos erros passados, encontramos sempre alguma ajuda. Se erguemos a cabeça, somos capazes de ver mais longe!

Saibamos transformar o estrondo da quebra num sinal de que há espaço para melhorar. Saibamos aperfeiçoar a segurança, após o Titanic; saibamos aperfeiçoar a engenharia, após o Hindenburg e a Challenger; saibamos aperfeiçoar os cálculos, após a Apollo XIII. O que está feito, está feito. Mas estagnar ou voar é uma opção nossa.

Eu, particularmente, prefiro aprender a voar. E com todos os meus erros, não desisto de tentar. Estou aqui nesse planeta para isso. Se a Natureza desejasse a perfeição pronta, sem esforço, a gente nascia já adulto.
Viver é aprender. O futuro não depende do que já aconteceu, depende do que fazemos hoje. É sempre tempo de fazer o nosso melhor!

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Ainda sobre o Amor

O Amor liberta.



O que de alguma forma nos prende, não é Amor. Pode ser uma simpatia, pode ser um gostar. Mas se não nos dá liberdade para ser o que somos, não é Amor.

O Amor não tem lista de direitos e deveres. Não assinamos um contrato quando resolvemos gostar de alguém. Contrato temos nos negócios, porque precisamos nos proteger quanto aos danos de uma má atitude alheia. A proteção é um escudo, uma armadura, um muro que limita a ação externa. Mas e o amor, que é uma troca, por excelência? O muro ajuda e evitar que o mal entre, mas também dificulta a entrada do bem. E se dificulta a entrada, dificulta a saída. Que troca é essa, que tem que driblar muros para existir?

Amar pede liberdade. Sem barreiras. Sem condições. Sem deveres.

Amar pede aceitação. Se não aceitamos, não amamos. As pessoas confundem as paixões com o amor. A paixão está fundamentada no desejo, no receber, nas ilusões do ego. O Amor não. O Amor é doação.

O Amor é. O Amor não depende. O Amor é paciente. Como diria Paulo na sua primeira epístola aos Coríntios: “O Amor é sofredor, é benigno; o Amor não é invejoso; o Amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.”

Quem vivencia o Amor verdadeiro, ganha asas para elevar-se acima das viciações humanas, colocando-se em templo seguro de paz, harmonia e felicidade.

O Amor nos faz sentir bem. Se o que pensamos ser Amor está nos deixando desequilibrados, angustiados, chateados, ressentidos... Melhor revermos os nossos conceitos e buscarmos o quanto antes a chave do cadeado, nos libertando das correntes, dos muros, dos escudos. Mas uma coisa é certa: precisaremos ter coragem. Coragem para mudar, para deixar o medo de sofrer. Precisaremos abrir mão do contrato. Será que é possível?

sábado, 16 de maio de 2009

AMAR

Por que será que é tão difícil para nós, amar?





Não falo aqui do que vulgarmente chamam de amor, como as paixonites voláteis e as atrações físicas disfarçadas, que movimentam o comércio no dia dos namorados e ilustram novelas e anúncios de motel. Chamam de amor o que na verdade é escambo: troca-se prazer, troca-se carinho, troca-se atenção, troca-se status, troca-se estima, troca-se dinheiro, troca-se compreensão, não necessariamente na mesma moeda. Alguém pode se sujeitar ao sexo para ter carinho, ao carinho para se ter sexo, ao sexo para se ter status, ao dinheiro para se ter atenção, e por aí vai. Mas há inevitavelmente o fator troca. Quando o fator troca se extingue, o “amor” morre. Como pode ser Amor, se é condicional? Eu amo, SE.... Ah, como eu posso amar SE.....?

Somos seres extremamente egoístas. Queremos que o outro satisfaça os NOSSOS desejos e nos empenhamos em achar alguém que esteja desejando dar aquilo que queremos receber. E por tempos até funciona, pois é comum que encontremos alguém que se encaixe ao perfil que procuramos. Vivemos a nossa idealização particular e nos deleitamos no desejo... Ah, o desejo... Tão embriagante!

Mas tempo surge em que a realidade nos chama. Puxa, o que estou fazendo? Ele é um fingido! Ela é uma interesseira! Ele não me ouve! Ela não me dá atenção! Ele não me respeita! E aí o “amor” quase sempre naufraga. Normalmente é uma atração passageira, mas não raro isso também acontece com casamentos, com uniões duradouras...

Amar é um exercício. É comum que pessoas mais velhas estejam mais aptas a amar do que os mais jovens, pois aprenderam e amadureceram ao longo da vida, normalmente com as desilusões. Também as mais velhas possivelmente passaram pela experiência de ter filhos. O amor maternal / paternal é um tipo de amor que ensina a natureza do que é Amar, verdadeiramente. É o amor que mais se aproxima com a renúncia e a incondicionalidade. Na teoria, uma mãe vai continuar amando seu filho, não importa o que ele faça. Na prática, sabemos que não é bem assim. Eu amo meu filho SE ele for obediente e SE ele fizer o que eu acho que é melhor para ele...

Estamos acostumados a viver na ilusão. Elegemos o que seria o “ideal” para a nossa vida e saímos em busca dessa ilusão com tanta força que nem nos damos conta que o tempo está passando e estamos ficando mais velhos. É comum vermos pessoas de idade madura em busca do mesmo prazer a que se dedicam os adolescentes, como mãe e filha juntas caçando amores “na balada”!

Será que as pessoas não amam porque não tiveram chance de encontrar alguém que valha a pena, como se costuma dizer? Duvido! Todos os dias encontramos pessoas maravilhosas em nossas vidas, mas estamos tão cegos por nossas ilusões que não as enxergamos. Só temos olhos para nós mesmos. Em relacionamentos, é muito fácil enxergar os defeitos alheios. É muito fácil perceber o que no outro está fora do que idealizamos. Somos PhD nas nossas próprias ilusões, sabemos direitinho o que é diferente do nosso ideal. Mas e a realidade? Mas e o que existe de bom no outro e que não alimenta as nossas ilusões? Não vemos. E nos culpamos por termos escolhido mal o parceiro, culpamos o acaso por ter colocado tal pessoa em nossa vida. Será que as pessoas se relacionam por um acaso? Ou será que temos sempre coisas a aprender uns com os outros?

Inevitavelmente a vida nos oferece exatamente aquilo que precisamos. Mas a gente não quer crescer, não quer aprender, não quer ser feliz. Queremos satisfazer os nossos desejos. Desprezamos o que não nos interessa. E se agimos assim, como acreditar que somos capazes de amar? Como acreditar que somos capazes de renunciar aos interesses pelo bem do outro? Difícil.

Estamos quase sempre tão cheios de nós mesmos que não temos tempo para ver o outro. E seguimos a vida assim. A sociedade no geral ainda defende os valores efêmeros, então por que se preocupar? Nos sentimos “normais” e isso é que importa. Nada como “experimentar” os relacionamentos, como se faz com comidas, com roupas, com objetos! Usamos enquanto nos agrada. Se não nos agrada mais, trocamos.

E o amor? Ora, isso fica sendo amor. Porque se for para deixar o egoísmo e ter que renunciar, ter que aprender, compreender, suportar, refletir e eventualmente até sofrer... melhor achar que o outro é problemático e fim de papo. Para amenizar, a gente fala que o problemático é a gente mesmo. Pronto. School´s out for Summer.