sábado, 31 de janeiro de 2009

Ilusões II

Tantos caminhos que se abrem aos nossos olhos... Direita, esquerda, ao alto, à frente. São tantas as escolhas da vida! A cada segundo temos que escolher algo. Agora escolho eu as palavras que melhor cabem a descrever as idéias, enquanto aquele que está a lê-las escolhe se vai parar a leitura ou pensar sobre elas.

Às vezes as escolhas são fáceis, às vezes nos dão a impressão de que somos incapazes de fazê-las. Nos parece fácil escolher quando não nos importamos muito com as consequências de uma escolha. Quando existe alguma importância, fica fácil decidir se nos sentimos capazes de discernir mais claramente as consequências, principalmente quando as positivas nos parecem maiores. Nos parece claro que as facas afiadas devem ser manuseadas com cuidado. Nos parece claro que escovar os dentes é bom para nós.

Mas para uma criança pequena? É comum vermos crianças brincando com facas ao mesmo tempo em que acham um sacrifício ter de escovar os dentes. A avaliação que elas têm da realidade e de suas consequências é condicionada ao seu pouco conhecimento. Analogamente acontece o mesmo conosco.

Esse equívoco de avaliação não ocorre somente pela falta de conhecimento, mas pela interferência do orgulho e das emoções desequilibradas. O ser humano tem uma habilidade imensa em acreditar-se senhor do conhecimento, como se sua inteligência aliada ao trabalho aplicado e à experiência pudesse torná-lo especial. Esse excesso de confiança e de auto-importância acaba se tornando arrogância, mesmo que seja uma arrogância sutil, revelada em pequenas escolhas. Essa arrogância em achar que temos as respostas é que nos faz fracos e, como crianças, nos deixam mais suscetíveis aos erros de avaliação. Quantas vezes nos lançamos a atitudes repentinas, por acharmos que estamos fazendo o “certo”? Ou, da mesma forma, quantas vezes nos lamentamos por uma atitude benéfica, por acharmos no momento que ela foi “errada”?

Nos comportamos como senhores do conhecimento, completamente dependentes ao que nos faz “sentido”. Poucas vezes nos comportamos como os ignorantes que realmente que somos, conservando uma abertura maior para outras possibilidades. Somos escravos da nossa imagem da realidade, que é fruto de uma interpretação. Por mais vasto que seja o nosso conhecimento, ele é uma pequena fração da realidade, fruto de nossa criação, de nossa cultura, de nossa sociedade. Somos seres que criamos ilusões e que as seguimos cheios de orgulho. E quando nos ferimos, empurrados pela realidade que não se enquadra no nosso quadro ilusório, é comum que culpemos ao acaso, aos outros, a Deus, porque queremos continuar iludidos. Ou então, quando de fato percebemos o nosso equívoco, a culpa desce sobre nós mesmos, paralizando a caminhada.

Nesse contexto das escolhas normalmente entram as emoções desequilibradas. São elas que nos impulsionam ainda mais fundo nas nossas ilusões, seja pela auto-destruição (por não sermos capazes de atingir o que desejamos), seja pela busca desenfreada pelo prazer (o que supostamente nos afastaria do sofrimento).

Um Mentor de uma casa espírita que frequento usa uma imagem muito bela para descrever essa situação. Ele diz que a ilusão e a realidade são como duas vastas cadeias montanhosas que seguem paralelas. Normalmente nós nos acostumamos a andar pelas montanhas da ilusão, ignorando os ventos que nos empurram para a realidade. E quando um acontecimento mais significativo ocorre e nos desloca em direção à realidade, caímos num local cuja nomenclatura usada pela psicologia foi inspirada na geografia: entre cadeias montanhosas, uma depressão.

Ah, como a vida poderia ser mais simples! O quanto nos fazemos escravos do nosso orgulho! Quanto sofrimento criamos para nós mesmos! Nos debatemos como mariposas buscando avidamente a lâmpada, nos ferindo, junto com todos, sem perceber a importância das asas que temos... Sem perceber que existe dentro de nós uma Voz que nos orienta...

Como vítimas ou juízes do mundo, não percebemos ainda a nossa grandeza real. Sofremos pela nossa estreiteza mental, como crianças brincando com facas afiadas ou fugindo das escovas de dente.

Na nossa sociedade, não compreendemos o que é o Amor. Achamos que sabemos o que é, colocando-o nas baixas posições de nossas ilusões.

O Amor é a Luz verdadeira que há de nos compensar a ignorância e a falta de visão, aperfeiçoando os nossos sentidos e a nossa inteligência.

Quanto mais as nossas decisões forem baseadas no Amor, mais segura será a nossa caminhada, pois o Amor nos aproxima do que é real. Nossa tarefa está em ter a coragem de amar, conscientes da nossa insignificância. Pois quando amamos, de fato, surge em nós uma Força inexplicável que é mais poderosa do que o mais brilhante dos pensamentos. Uma Força que é Única, muito além do que imaginamos que seja, nos impulsionando para a nossa felicidade - felicidade real, e não o que pensamos ser felicidade.

Amor e coragem, a chave para decidir!

domingo, 25 de janeiro de 2009

Ilusões

Pensei um muitas coisas para escrever, mas o tempo tem sido escasso para produzir um bom texto. Assim, deixarei as borboletas voando sobre o jardim.

Volto depois, com o meu quadro de palavras.

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René Magritte. La Condition humaine. 1933

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Alberto Caeiro - O Guardador de Rebanhos

XLI - No Entardecer

No entardecer dos dias de Verão, às vezes,
Ainda que não haja brisa nenhuma, parece
Que passa, um momento, uma leve brisa...
Mas as árvores permanecem imóveis
Em todas as folhas das suas folhas
E os nossos sentidos tiveram uma ilusão,
Tiveram a ilusão do que lhes agradaria...

Ah, os sentidos, os doentes que vêem e ouvem!
Fôssemos nós como devíamos ser
E não haveria em nós necessidade de ilusão ...
Bastar-nos-ia sentir com clareza e vida
E nem repararmos para que há sentidos ...

Mas graças a Deus que há imperfeição no Mundo
Porque a imperfeição é uma cousa,
E haver gente que erra é original,
E haver gente doente torna o Mundo engraçado.
Se não houvesse imperfeição, havia uma cousa a menos,
E deve haver muita cousa
Para termos muito que ver e ouvir...

sábado, 17 de janeiro de 2009

MEDOS

Meu primeiro texto corre paralelo ao de uma escritora, fotógrafa e nadadora muito especial. Ela é umas dessas pessoas que iluminam o caminho da gente, como presentes que a Vida nos oferece para que não nos percamos durante as noites escuras. Ler os seus textos é sempre uma inspiração.

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Há algo no medo que me traz tristeza. Não falo aqui do medo-sobrevivência, este que a
ciência explica como “uma reação em cadeia do cérebro que prepara o corpo para uma reação de fuga ou de luta”. Esse medo tem sua razão de ser e de certa forma é sempre útil a auto-preservação. Homens e animais dividem os mesmos mecanismos cerebrais, do tálamo ao hipotálamo.

Também não falo do medo da punição, como um mecanismo de ajuste social. Falo aqui do medo de viver, do medo de superar os obstáculos que nos afastam de uma vida mais feliz.

Transcrevo aqui um belo trecho sobre o medo
nas palavras de Rubem Alves:

“Somos iguais aos animais, em que as mesmas coisas terríveis podem acontecer a eles e a nós. Mas somos diferentes deles porque eles só sofrem como se deve sofrer, isto é, quando o terrível acontece. E nós, tolos, sofremos sem que ele tenha acontecido. Sofremos imaginando o terrível. O medo é a presença do terrível-não-acontecido, se apossando das nossas vidas. Ele pode acontecer? Pode. Mas ainda não aconteceu e nem se sabe se acontecerá.

Curioso: nós, humanos, somos os únicos animais a ter prazer no medo. A colina suave não seduz o alpinista. Ele quer o perigo dos abismos, o calafrio das neves, a sensação de solidão. A terra firme, tão segura, tão sem medo, tão monótona! Mas é o mar sem fim que nos chama: “A solidez da terra, monótona, parece-nos fraca ilusão. Queremos a ilusão do grande mar, multiplicada em suas malhas de perigo...“ (Cecília Meireles).

A pomba, que por medo do gavião, se recusasse a sair do ninho, já se teria perdido no próprio ato de fugir do gavião. Porque o medo lhe teria roubado aquilo que de mais precioso existe num pássaro: o vôo. Quem, por medo do terrível, prefere o caminho prudente de fugir do risco, já nesse ato estará morto. Porque o medo lhe terá roubado aquilo que de mais precioso existe na vida humana: a capacidade de se arriscar para viver o que se ama.

O medo não é uma perturbação psicológica. Ele é parte da nossa própria alma. O que é decisivo é se o medo nos faz rastejar ou se ele nos faz voar. Quem, por causa do medo, se encolhe e rasteja, vive a morte na própria vida. Quem, a despeito do medo, toma o risco e voa, triunfa sobre a morte. Morrerá, quando a morte vier. Mas só quando ela vier. Esse é o sentido das palavras de Jesus: “Aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á. Mas quem perder a sua vida, a encontrará.“ Viver a vida, aceitando o risco da morte: isso tem o nome de coragem. Coragem não é ausência do medo. É viver, a despeito do medo.”

Acredito que a raiz da minha tristeza em relação ao medo esteja justamente na opção que o ser humano faz por permitir que seja roubado aquilo que tem de mais precioso. Seria tão mais fácil ter coragem!! A dor de algo terrível, quando estamos buscando ser felizes, é devida a um acontecimento concreto – ao contrário do medo, que nos faz sofrer pelo que “poderia acontecer”. Ela nos debilita, mas nos ensina. Sabemos o que precisamos fazer para nos curar e trabalhamos para evitar que aconteça novamente. Passado o tempo de recuperação, estamos mais fortes e preparados para seguir adiante. Estamos mais próximos dos nossos desejos.

A criança que se rala aprendendo a andar de bicicleta está mais próxima de realizar grandes viagens e manobras do que aquela que tem medo de experimentar. E esse ralado, por pior que seja, vai cicatrizar com os cuidados necessários. Agora quem foge de seus desejos por medo de fracassar, muitas vezes vive um sofrimento muito maior do que provocariam as dores reais de um acontecimento desfavorável. Acaba desenvolvendo uma frustração silenciosa, um sentimento de incapacidade que afetará sua auto-estima e em alguns casos acabará por gerar remorso, culpa e auto-punição.

Ser “poupado” de algo ruim quando estamos buscando a nossa felicidade pode resultar em alguma vantagem, mas nunca vai proporcionar algo tão intenso quanto o sabor de uma vitória, o sabor da auto-superação e da atitude corajosa que nos colocou mais próximos de nossos sonhos.

Para ser feliz é preciso coragem. Na minha vida, me ralei e tropecei das mais diversas formas. Fisicamente, intelectualmente, emocionalmente. Continuo tropeçando. Sofri muito, como qualquer ser humano. Mas posso dizer que aprendi que a coragem é essencial. Fiz um acordo comigo mesmo: não cederei ao medo quando perceber que estou sendo dominado por ele. Enfrentarei, por mais não saiba como agir.

Não me arrependo.

E hoje, aprendi que a paisagem é muito mais bela quando temos coragem. O medo obstrui os nossos sentidos!

Coragem é a palavra do dia!

Início

Há muitos meses que esse espaço para idéias está com a estrutura pronta. A idéia de escrever sempre me motivou, porque as palavras são importantes veículos do pensamento e das emoções. Sempre escrevi para mim mesmo, porque o ato de escrever, mesmo que sem um destinatário exterior, é um exercício de auto-conhecimento e de organização das idéias e sentimentos. Não raro o ato de escrever se tornar uma terapia, ao promover a harmonização íntima de quem escreve por dar forma aos impulsos desordenados da mente e do coração. Isso acaba por promover a conscientização acerca do que nos aflige, facilitando a nossa compreensão e a solução de eventuais conflitos, ao mesmo tempo em que exalta as luzes do que temos de bom e que muitas vezes permanece à sombra da nossa consciência, oculto pela nossa auto-crítica e negatividade.

Saindo da esfera pessoal, temos que o ato de escrever, quando compartilhado, promove a aproximação das pessoas, de um modo geral, e mais especificamente o auxílio ou o acréscimo à bagagem daqueles que lêem, por exposição de sentimentos e pensamentos que pertencem a um determinado ser humano, diferente de qualquer outro. Nesse contexto que surgiu a idéia desse espaço. Não desenvolvo aqui pretensões literárias, caminhando entre os signos e siginificações da arte. Isso eu deixo aos escritores e poetas! Também não desejo criar adornos ao meu próprio ego. Aquele que escreve é apenas veículo das idéias, assim como a concha obscura é o lar de formosas pérolas.

Meu desejo – pretensioso, talvez – é compartilhar a beleza e as luzes que a vida me oferece. Possivelmente as nuanças são múltiplas e cada um possui suas próprias maneiras de ver a vida, mas espero que alguma coisa em minhas palavras possa servir para nos aproximar de um todo mais feliz e mais iluminado, um mundo em que nossos esforços sejam cada vez mais fraternos e nossas vidas, mais leves e alegres.

Hoje eu escrevo e amanhã serei história. Passarei, como passaram a carne e os ossos dos que me precederam. Contudo, as luzes das idéias e do amor permanecem pela eternidade. Enquanto a partida é inevitável, as escolhas são sempre facultativas. Minha luta é fazer de minhas escolhas oportunidades de se criar o bem comum, como uma centelha humilde de Amor Divino que passa por mim e se espalha ao meu redor. Para que, quando eu não mais estiver aqui, alguém possa lembrar-se de mim e sorrir: “Esse, pequeno, foi alguém que amou a vida, o mundo e as pessoas”.

Enfim, sejam benvindos ao meu espaço das idéias. Jovem e imaturo, mas nutre grandes esperanças!