Meu primeiro texto corre paralelo ao de uma escritora, fotógrafa e nadadora muito especial. Ela é umas dessas pessoas que iluminam o caminho da gente, como presentes que a Vida nos oferece para que não nos percamos durante as noites escuras. Ler os seus textos é sempre uma inspiração.
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Há algo no medo que me traz tristeza. Não falo aqui do medo-sobrevivência, este que a ciência explica como “uma reação em cadeia do cérebro que prepara o corpo para uma reação de fuga ou de luta”. Esse medo tem sua razão de ser e de certa forma é sempre útil a auto-preservação. Homens e animais dividem os mesmos mecanismos cerebrais, do tálamo ao hipotálamo.
Também não falo do medo da punição, como um mecanismo de ajuste social. Falo aqui do medo de viver, do medo de superar os obstáculos que nos afastam de uma vida mais feliz.
Transcrevo aqui um belo trecho sobre o medo nas palavras de Rubem Alves:
“Somos iguais aos animais, em que as mesmas coisas terríveis podem acontecer a eles e a nós. Mas somos diferentes deles porque eles só sofrem como se deve sofrer, isto é, quando o terrível acontece. E nós, tolos, sofremos sem que ele tenha acontecido. Sofremos imaginando o terrível. O medo é a presença do terrível-não-acontecido, se apossando das nossas vidas. Ele pode acontecer? Pode. Mas ainda não aconteceu e nem se sabe se acontecerá.
Curioso: nós, humanos, somos os únicos animais a ter prazer no medo. A colina suave não seduz o alpinista. Ele quer o perigo dos abismos, o calafrio das neves, a sensação de solidão. A terra firme, tão segura, tão sem medo, tão monótona! Mas é o mar sem fim que nos chama: “A solidez da terra, monótona, parece-nos fraca ilusão. Queremos a ilusão do grande mar, multiplicada em suas malhas de perigo...“ (Cecília Meireles).
A pomba, que por medo do gavião, se recusasse a sair do ninho, já se teria perdido no próprio ato de fugir do gavião. Porque o medo lhe teria roubado aquilo que de mais precioso existe num pássaro: o vôo. Quem, por medo do terrível, prefere o caminho prudente de fugir do risco, já nesse ato estará morto. Porque o medo lhe terá roubado aquilo que de mais precioso existe na vida humana: a capacidade de se arriscar para viver o que se ama.
O medo não é uma perturbação psicológica. Ele é parte da nossa própria alma. O que é decisivo é se o medo nos faz rastejar ou se ele nos faz voar. Quem, por causa do medo, se encolhe e rasteja, vive a morte na própria vida. Quem, a despeito do medo, toma o risco e voa, triunfa sobre a morte. Morrerá, quando a morte vier. Mas só quando ela vier. Esse é o sentido das palavras de Jesus: “Aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á. Mas quem perder a sua vida, a encontrará.“ Viver a vida, aceitando o risco da morte: isso tem o nome de coragem. Coragem não é ausência do medo. É viver, a despeito do medo.”
Acredito que a raiz da minha tristeza em relação ao medo esteja justamente na opção que o ser humano faz por permitir que seja roubado aquilo que tem de mais precioso. Seria tão mais fácil ter coragem!! A dor de algo terrível, quando estamos buscando ser felizes, é devida a um acontecimento concreto – ao contrário do medo, que nos faz sofrer pelo que “poderia acontecer”. Ela nos debilita, mas nos ensina. Sabemos o que precisamos fazer para nos curar e trabalhamos para evitar que aconteça novamente. Passado o tempo de recuperação, estamos mais fortes e preparados para seguir adiante. Estamos mais próximos dos nossos desejos.
A criança que se rala aprendendo a andar de bicicleta está mais próxima de realizar grandes viagens e manobras do que aquela que tem medo de experimentar. E esse ralado, por pior que seja, vai cicatrizar com os cuidados necessários. Agora quem foge de seus desejos por medo de fracassar, muitas vezes vive um sofrimento muito maior do que provocariam as dores reais de um acontecimento desfavorável. Acaba desenvolvendo uma frustração silenciosa, um sentimento de incapacidade que afetará sua auto-estima e em alguns casos acabará por gerar remorso, culpa e auto-punição.
Ser “poupado” de algo ruim quando estamos buscando a nossa felicidade pode resultar em alguma vantagem, mas nunca vai proporcionar algo tão intenso quanto o sabor de uma vitória, o sabor da auto-superação e da atitude corajosa que nos colocou mais próximos de nossos sonhos.
Para ser feliz é preciso coragem. Na minha vida, me ralei e tropecei das mais diversas formas. Fisicamente, intelectualmente, emocionalmente. Continuo tropeçando. Sofri muito, como qualquer ser humano. Mas posso dizer que aprendi que a coragem é essencial. Fiz um acordo comigo mesmo: não cederei ao medo quando perceber que estou sendo dominado por ele. Enfrentarei, por mais não saiba como agir.
Não me arrependo.
E hoje, aprendi que a paisagem é muito mais bela quando temos coragem. O medo obstrui os nossos sentidos!
Coragem é a palavra do dia!
3 comentários:
Ai, ai, ai.... Seu Jone!!
Lindo o texto e o tema!! Keep it up!!
Oi, Jone!
Muito obrigada pela visita ao meu blog. Adorei demais o seu! Logo de cara Rubem, Cecília, e as suas palavras com uma simplicidade especial... Vou adicionar!
Beijos de luz,
Aline***
Jone,
Se esse texto nasceu do meu, fico feliz pelo bom fruto...
A Lu, ao ler meu texto, disse algo que achei muito bom: o contrário do medo é a fé, o contrário da coragem é a covardia.
Beijo grande,
Ana
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