sábado, 16 de maio de 2009

AMAR

Por que será que é tão difícil para nós, amar?





Não falo aqui do que vulgarmente chamam de amor, como as paixonites voláteis e as atrações físicas disfarçadas, que movimentam o comércio no dia dos namorados e ilustram novelas e anúncios de motel. Chamam de amor o que na verdade é escambo: troca-se prazer, troca-se carinho, troca-se atenção, troca-se status, troca-se estima, troca-se dinheiro, troca-se compreensão, não necessariamente na mesma moeda. Alguém pode se sujeitar ao sexo para ter carinho, ao carinho para se ter sexo, ao sexo para se ter status, ao dinheiro para se ter atenção, e por aí vai. Mas há inevitavelmente o fator troca. Quando o fator troca se extingue, o “amor” morre. Como pode ser Amor, se é condicional? Eu amo, SE.... Ah, como eu posso amar SE.....?

Somos seres extremamente egoístas. Queremos que o outro satisfaça os NOSSOS desejos e nos empenhamos em achar alguém que esteja desejando dar aquilo que queremos receber. E por tempos até funciona, pois é comum que encontremos alguém que se encaixe ao perfil que procuramos. Vivemos a nossa idealização particular e nos deleitamos no desejo... Ah, o desejo... Tão embriagante!

Mas tempo surge em que a realidade nos chama. Puxa, o que estou fazendo? Ele é um fingido! Ela é uma interesseira! Ele não me ouve! Ela não me dá atenção! Ele não me respeita! E aí o “amor” quase sempre naufraga. Normalmente é uma atração passageira, mas não raro isso também acontece com casamentos, com uniões duradouras...

Amar é um exercício. É comum que pessoas mais velhas estejam mais aptas a amar do que os mais jovens, pois aprenderam e amadureceram ao longo da vida, normalmente com as desilusões. Também as mais velhas possivelmente passaram pela experiência de ter filhos. O amor maternal / paternal é um tipo de amor que ensina a natureza do que é Amar, verdadeiramente. É o amor que mais se aproxima com a renúncia e a incondicionalidade. Na teoria, uma mãe vai continuar amando seu filho, não importa o que ele faça. Na prática, sabemos que não é bem assim. Eu amo meu filho SE ele for obediente e SE ele fizer o que eu acho que é melhor para ele...

Estamos acostumados a viver na ilusão. Elegemos o que seria o “ideal” para a nossa vida e saímos em busca dessa ilusão com tanta força que nem nos damos conta que o tempo está passando e estamos ficando mais velhos. É comum vermos pessoas de idade madura em busca do mesmo prazer a que se dedicam os adolescentes, como mãe e filha juntas caçando amores “na balada”!

Será que as pessoas não amam porque não tiveram chance de encontrar alguém que valha a pena, como se costuma dizer? Duvido! Todos os dias encontramos pessoas maravilhosas em nossas vidas, mas estamos tão cegos por nossas ilusões que não as enxergamos. Só temos olhos para nós mesmos. Em relacionamentos, é muito fácil enxergar os defeitos alheios. É muito fácil perceber o que no outro está fora do que idealizamos. Somos PhD nas nossas próprias ilusões, sabemos direitinho o que é diferente do nosso ideal. Mas e a realidade? Mas e o que existe de bom no outro e que não alimenta as nossas ilusões? Não vemos. E nos culpamos por termos escolhido mal o parceiro, culpamos o acaso por ter colocado tal pessoa em nossa vida. Será que as pessoas se relacionam por um acaso? Ou será que temos sempre coisas a aprender uns com os outros?

Inevitavelmente a vida nos oferece exatamente aquilo que precisamos. Mas a gente não quer crescer, não quer aprender, não quer ser feliz. Queremos satisfazer os nossos desejos. Desprezamos o que não nos interessa. E se agimos assim, como acreditar que somos capazes de amar? Como acreditar que somos capazes de renunciar aos interesses pelo bem do outro? Difícil.

Estamos quase sempre tão cheios de nós mesmos que não temos tempo para ver o outro. E seguimos a vida assim. A sociedade no geral ainda defende os valores efêmeros, então por que se preocupar? Nos sentimos “normais” e isso é que importa. Nada como “experimentar” os relacionamentos, como se faz com comidas, com roupas, com objetos! Usamos enquanto nos agrada. Se não nos agrada mais, trocamos.

E o amor? Ora, isso fica sendo amor. Porque se for para deixar o egoísmo e ter que renunciar, ter que aprender, compreender, suportar, refletir e eventualmente até sofrer... melhor achar que o outro é problemático e fim de papo. Para amenizar, a gente fala que o problemático é a gente mesmo. Pronto. School´s out for Summer.

2 comentários:

Aline Ahmad disse...

Adorei o post!
Agora sou sua seguidora!
Beijos de luz,
Aline***

Joyce Veras disse...

Bastante profundo!! Porém, é a verdade.
As pessoas hoje em dia, criam conceitos e apontam que características querem que o seu companheiro possuam. Infelizmente, não queremos mudar pra fazer com que a relação continue. Ou então, joga a culpa no outro e diz "Ah, se ele me quiser que mude por mim!". É triste ver que o conceito de amor mudou.
Procuramos alguém que nos aceite como somos e que esteja dentro dos itens que criamos em nossa lista para uma pessoa perfeita. O companheirismo, respeito, paciência e tantos outros pontos importantes que constituem o amor estão se perdendo por conta das nossas idealizações de pessoas "perfeitas".
Não nos damos a chance de conhecer alguém diferente da nossa imaginação, não nos damos "ao luxo" de conhecer alguém que não se enquadre naquilo que queremos. E, pode ser nesse momento, que perdemos a chance de conhecer aquilo que se chama AMOR.
Creio que nós (sim, NÓS!) precisamos dá a chance para nós mesmo de ir em busca do desconhecido, de se abrir para aquilo que está fora dos padrões que estabelecemos. É preciso que nos permitamos conhecer o "diferente" e além disso, AMAR O DIFERENTE. É preciso quebrarmos os paradigmas, os conceitos, rasgar as listas que criamos, pois só assim saberemos o que é amar verdadeiramente!
Temos que está com os olhos atentos! O amor por passar quando menos esperamos e com quem menos imaginamos!

Beijos!!
Joyce Veras, Cabaceiras - PB.