terça-feira, 28 de julho de 2009

Ainda sobre o medo

Já falei aqui sobre o medo anteriormente.


Penso que o que realmente nos amedronta não é o concreto, o real. O que nos amedronta é a imagem que criamos de um obstáculo, de uma situação desfavorável. Criamos uma imagem muito pior do que a realidade de fato é. E nos apegamos a essa imagem com tal volúpia que ela se torna real para nós.

A criança que teme o escuro cria para si mesma monstros que são reais e horríveis. Assim como crianças, também seguimos a irracionalidade e criamos os nossos próprios monstros.

O medo de ser traído num relacionamento pode criar situações que não existem.
O medo de que o filho se machuque pode criar perigos improváveis.
O medo da violência pode criar bandidos e malfeitores em pessoas honestas.
O medo de se decepcionar pode criar defeitos e problemas que não existem.
O medo de fracassar pode criar obstáculos e deficiências que não existem.

Eu, particularmente, não aceito viver com medo. Se percebo que ele está obscurecendo minhas opções, se está criando sombras onde não existem, eu acendo uma luz. Eu enfrento. A coragem costuma separar o que é real do que é imaginário.

De pequeno, depois que aprendi a levantar da cama e acender a luz quando ficasse com medo, nunca mais acreditei que existissem monstros escondidos nas sombras do quarto. E percebi que os piores obstáculos são os que surgem antes da coragem de enfrentá-los.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Muito barulho por nada


Queria escrever sobre o fracasso. Qual não foi minha surpresa quando, de início, parti para a ajuda do dicionário: a primeira acepção do termo não é o que eu imaginava que fosse e, decerto, o que a maioria das pessoas imagina.

Fracasso: Subst. masculino
1- som estrepitoso provocado pela queda ou destroçamento de algo; barulho; estrondo.

Fracasso é derivado de fracassar, que, segundo o Houaiss, se origina do termo italiano fracassare (a1306) 'destroçar, despedaçar, quebrar com estrépito'.
A segunda acepção, por extensão de sentido, decorre da primeira:
2- falta de êxito; malogro; derrota.

Imagino que atualmente o termo seja mais usado com o seu segundo sentido. Por quê? Será que se deve à tradição humana, usualmente voltada para a interpretação negativa dos fatos, roubando de um acontecimento concreto – a quebra de um objeto e o som produzido por essa quebra – a definição para a avaliação subjetiva de um fato? Ora, um ruído de algo se quebrando pode ser um bom presságio, uma comemoração, um momento feliz...

Divagações à parte, o segundo sentido para fracasso tem caráter subjetivo e depende da avaliação pessoal de cada um. O que é falta de êxito para um, é sorte para outro; o que é derrota para um, é vitória para outro. De modo geral, costuma prevalecer a visão negativa.

Todo erro enseja um ensinamento. Todo erro é proveniente de uma ação. E sabemos, não há progresso sem ação. Não há vitória sem atitude. O melhor não nasce pronto. A obra-prima não surge do primeiro contato com o pincel.

O grande inventor não acordou numa bela manhã e construiu a lâmpada elétrica. Com certeza sofreu centenas de “derrotas” antes de conseguir o que desejava. E foi justamente dele que surgiu a célebre frase:
“Gênio é fruto de 99% de transpiração e de 1% de inspiração.”

E nós, como nos comportamos? Estamos esperando a lâmpada elétrica na primeira, segunda ou terceira tentativa? Ou, nos achando “pacientes”, tentamos até a décima vez antes de admitirmos a derrota?

Hoje é fácil dizer que Edison era um homem genial. Mas será que a gente teria a mesma lâmpada elétrica hoje, caso ele tivesse desistido na décima tentativa? Caso ele tivesse sido derrubado pela autocrítica e desistido? Acaso saberíamos quem foi Thomas Edison, se ele tivesse duvidado de si mesmo?

E o que seria de Beethoven, se ele tivesse se revoltado e desistido das lições de piano impostas pelo pai? O que seria do jovem Einstein se ele saísse da escola, onde tinha notas medíocres, e se achasse incapaz de progredir nos estudos? Se ele se achasse menos que os outros?

É fácil julgar a história olhando de trás para frente. Mas quando as coisas acontecem, o êxito depende somente de cada individualidade, no momento em que ela decide qual caminho quer seguir. Não importa o tamanho do erro. Todos temos a escolha: continuar e aprender com o engano, ou nos lamentarmos e estagnarmos no abismo do remorso, da culpa e da autopunição.

Certo, alguns podem pensar que os chamados gênios tinham algo de especial. Então analisemos o esporte, por exemplo.

Hoje assistimos, maravilhados, um patinador deslizando sobre o gelo numa competição internacional. Ah, que dom! Imaginamos que ele nasceu com patins nos pés e apenas foi desenvolvendo a arte, certo? Ou será que ele caiu diversas vezes? Ou será que ele um dia já foi um iniciante, desajeitado? Será que ele já não foi motivo de vergonha para seus professores? Será que alguma vez ele já duvidou de si mesmo? Com certeza em algum momento ele fracassou. Mas, se hoje ele é um vencedor, foi porque soube perceber que não existem fracassos. O fracasso existe apenas na mente dos que não desejam progredir. Tudo pode resultar em aprendizado. E o aprendizado liberta.

Nós, seres “comuns”, o que temos feito de nossas vidas? É certo que todos cometemos erros. Mas como estamos reagindo diante dos nossos erros? Estamos afundando na autocrítica exacerbada, nas culpas paralisantes? Estamos deixando os patins de lado, pelos escorregões que tomamos? Tudo depende de nossa postura, das nossas escolhas.

E a vida ainda é tão maravilhosa que, quando decidimos ir em frente, quando estamos dispostos a enfrentar as conseqüências de nossos erros passados, encontramos sempre alguma ajuda. Se erguemos a cabeça, somos capazes de ver mais longe!

Saibamos transformar o estrondo da quebra num sinal de que há espaço para melhorar. Saibamos aperfeiçoar a segurança, após o Titanic; saibamos aperfeiçoar a engenharia, após o Hindenburg e a Challenger; saibamos aperfeiçoar os cálculos, após a Apollo XIII. O que está feito, está feito. Mas estagnar ou voar é uma opção nossa.

Eu, particularmente, prefiro aprender a voar. E com todos os meus erros, não desisto de tentar. Estou aqui nesse planeta para isso. Se a Natureza desejasse a perfeição pronta, sem esforço, a gente nascia já adulto.
Viver é aprender. O futuro não depende do que já aconteceu, depende do que fazemos hoje. É sempre tempo de fazer o nosso melhor!

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Ainda sobre o Amor

O Amor liberta.



O que de alguma forma nos prende, não é Amor. Pode ser uma simpatia, pode ser um gostar. Mas se não nos dá liberdade para ser o que somos, não é Amor.

O Amor não tem lista de direitos e deveres. Não assinamos um contrato quando resolvemos gostar de alguém. Contrato temos nos negócios, porque precisamos nos proteger quanto aos danos de uma má atitude alheia. A proteção é um escudo, uma armadura, um muro que limita a ação externa. Mas e o amor, que é uma troca, por excelência? O muro ajuda e evitar que o mal entre, mas também dificulta a entrada do bem. E se dificulta a entrada, dificulta a saída. Que troca é essa, que tem que driblar muros para existir?

Amar pede liberdade. Sem barreiras. Sem condições. Sem deveres.

Amar pede aceitação. Se não aceitamos, não amamos. As pessoas confundem as paixões com o amor. A paixão está fundamentada no desejo, no receber, nas ilusões do ego. O Amor não. O Amor é doação.

O Amor é. O Amor não depende. O Amor é paciente. Como diria Paulo na sua primeira epístola aos Coríntios: “O Amor é sofredor, é benigno; o Amor não é invejoso; o Amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.”

Quem vivencia o Amor verdadeiro, ganha asas para elevar-se acima das viciações humanas, colocando-se em templo seguro de paz, harmonia e felicidade.

O Amor nos faz sentir bem. Se o que pensamos ser Amor está nos deixando desequilibrados, angustiados, chateados, ressentidos... Melhor revermos os nossos conceitos e buscarmos o quanto antes a chave do cadeado, nos libertando das correntes, dos muros, dos escudos. Mas uma coisa é certa: precisaremos ter coragem. Coragem para mudar, para deixar o medo de sofrer. Precisaremos abrir mão do contrato. Será que é possível?