sexta-feira, 10 de julho de 2009

Muito barulho por nada


Queria escrever sobre o fracasso. Qual não foi minha surpresa quando, de início, parti para a ajuda do dicionário: a primeira acepção do termo não é o que eu imaginava que fosse e, decerto, o que a maioria das pessoas imagina.

Fracasso: Subst. masculino
1- som estrepitoso provocado pela queda ou destroçamento de algo; barulho; estrondo.

Fracasso é derivado de fracassar, que, segundo o Houaiss, se origina do termo italiano fracassare (a1306) 'destroçar, despedaçar, quebrar com estrépito'.
A segunda acepção, por extensão de sentido, decorre da primeira:
2- falta de êxito; malogro; derrota.

Imagino que atualmente o termo seja mais usado com o seu segundo sentido. Por quê? Será que se deve à tradição humana, usualmente voltada para a interpretação negativa dos fatos, roubando de um acontecimento concreto – a quebra de um objeto e o som produzido por essa quebra – a definição para a avaliação subjetiva de um fato? Ora, um ruído de algo se quebrando pode ser um bom presságio, uma comemoração, um momento feliz...

Divagações à parte, o segundo sentido para fracasso tem caráter subjetivo e depende da avaliação pessoal de cada um. O que é falta de êxito para um, é sorte para outro; o que é derrota para um, é vitória para outro. De modo geral, costuma prevalecer a visão negativa.

Todo erro enseja um ensinamento. Todo erro é proveniente de uma ação. E sabemos, não há progresso sem ação. Não há vitória sem atitude. O melhor não nasce pronto. A obra-prima não surge do primeiro contato com o pincel.

O grande inventor não acordou numa bela manhã e construiu a lâmpada elétrica. Com certeza sofreu centenas de “derrotas” antes de conseguir o que desejava. E foi justamente dele que surgiu a célebre frase:
“Gênio é fruto de 99% de transpiração e de 1% de inspiração.”

E nós, como nos comportamos? Estamos esperando a lâmpada elétrica na primeira, segunda ou terceira tentativa? Ou, nos achando “pacientes”, tentamos até a décima vez antes de admitirmos a derrota?

Hoje é fácil dizer que Edison era um homem genial. Mas será que a gente teria a mesma lâmpada elétrica hoje, caso ele tivesse desistido na décima tentativa? Caso ele tivesse sido derrubado pela autocrítica e desistido? Acaso saberíamos quem foi Thomas Edison, se ele tivesse duvidado de si mesmo?

E o que seria de Beethoven, se ele tivesse se revoltado e desistido das lições de piano impostas pelo pai? O que seria do jovem Einstein se ele saísse da escola, onde tinha notas medíocres, e se achasse incapaz de progredir nos estudos? Se ele se achasse menos que os outros?

É fácil julgar a história olhando de trás para frente. Mas quando as coisas acontecem, o êxito depende somente de cada individualidade, no momento em que ela decide qual caminho quer seguir. Não importa o tamanho do erro. Todos temos a escolha: continuar e aprender com o engano, ou nos lamentarmos e estagnarmos no abismo do remorso, da culpa e da autopunição.

Certo, alguns podem pensar que os chamados gênios tinham algo de especial. Então analisemos o esporte, por exemplo.

Hoje assistimos, maravilhados, um patinador deslizando sobre o gelo numa competição internacional. Ah, que dom! Imaginamos que ele nasceu com patins nos pés e apenas foi desenvolvendo a arte, certo? Ou será que ele caiu diversas vezes? Ou será que ele um dia já foi um iniciante, desajeitado? Será que ele já não foi motivo de vergonha para seus professores? Será que alguma vez ele já duvidou de si mesmo? Com certeza em algum momento ele fracassou. Mas, se hoje ele é um vencedor, foi porque soube perceber que não existem fracassos. O fracasso existe apenas na mente dos que não desejam progredir. Tudo pode resultar em aprendizado. E o aprendizado liberta.

Nós, seres “comuns”, o que temos feito de nossas vidas? É certo que todos cometemos erros. Mas como estamos reagindo diante dos nossos erros? Estamos afundando na autocrítica exacerbada, nas culpas paralisantes? Estamos deixando os patins de lado, pelos escorregões que tomamos? Tudo depende de nossa postura, das nossas escolhas.

E a vida ainda é tão maravilhosa que, quando decidimos ir em frente, quando estamos dispostos a enfrentar as conseqüências de nossos erros passados, encontramos sempre alguma ajuda. Se erguemos a cabeça, somos capazes de ver mais longe!

Saibamos transformar o estrondo da quebra num sinal de que há espaço para melhorar. Saibamos aperfeiçoar a segurança, após o Titanic; saibamos aperfeiçoar a engenharia, após o Hindenburg e a Challenger; saibamos aperfeiçoar os cálculos, após a Apollo XIII. O que está feito, está feito. Mas estagnar ou voar é uma opção nossa.

Eu, particularmente, prefiro aprender a voar. E com todos os meus erros, não desisto de tentar. Estou aqui nesse planeta para isso. Se a Natureza desejasse a perfeição pronta, sem esforço, a gente nascia já adulto.
Viver é aprender. O futuro não depende do que já aconteceu, depende do que fazemos hoje. É sempre tempo de fazer o nosso melhor!

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