terça-feira, 28 de julho de 2009

Ainda sobre o medo

Já falei aqui sobre o medo anteriormente.


Penso que o que realmente nos amedronta não é o concreto, o real. O que nos amedronta é a imagem que criamos de um obstáculo, de uma situação desfavorável. Criamos uma imagem muito pior do que a realidade de fato é. E nos apegamos a essa imagem com tal volúpia que ela se torna real para nós.

A criança que teme o escuro cria para si mesma monstros que são reais e horríveis. Assim como crianças, também seguimos a irracionalidade e criamos os nossos próprios monstros.

O medo de ser traído num relacionamento pode criar situações que não existem.
O medo de que o filho se machuque pode criar perigos improváveis.
O medo da violência pode criar bandidos e malfeitores em pessoas honestas.
O medo de se decepcionar pode criar defeitos e problemas que não existem.
O medo de fracassar pode criar obstáculos e deficiências que não existem.

Eu, particularmente, não aceito viver com medo. Se percebo que ele está obscurecendo minhas opções, se está criando sombras onde não existem, eu acendo uma luz. Eu enfrento. A coragem costuma separar o que é real do que é imaginário.

De pequeno, depois que aprendi a levantar da cama e acender a luz quando ficasse com medo, nunca mais acreditei que existissem monstros escondidos nas sombras do quarto. E percebi que os piores obstáculos são os que surgem antes da coragem de enfrentá-los.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Muito barulho por nada


Queria escrever sobre o fracasso. Qual não foi minha surpresa quando, de início, parti para a ajuda do dicionário: a primeira acepção do termo não é o que eu imaginava que fosse e, decerto, o que a maioria das pessoas imagina.

Fracasso: Subst. masculino
1- som estrepitoso provocado pela queda ou destroçamento de algo; barulho; estrondo.

Fracasso é derivado de fracassar, que, segundo o Houaiss, se origina do termo italiano fracassare (a1306) 'destroçar, despedaçar, quebrar com estrépito'.
A segunda acepção, por extensão de sentido, decorre da primeira:
2- falta de êxito; malogro; derrota.

Imagino que atualmente o termo seja mais usado com o seu segundo sentido. Por quê? Será que se deve à tradição humana, usualmente voltada para a interpretação negativa dos fatos, roubando de um acontecimento concreto – a quebra de um objeto e o som produzido por essa quebra – a definição para a avaliação subjetiva de um fato? Ora, um ruído de algo se quebrando pode ser um bom presságio, uma comemoração, um momento feliz...

Divagações à parte, o segundo sentido para fracasso tem caráter subjetivo e depende da avaliação pessoal de cada um. O que é falta de êxito para um, é sorte para outro; o que é derrota para um, é vitória para outro. De modo geral, costuma prevalecer a visão negativa.

Todo erro enseja um ensinamento. Todo erro é proveniente de uma ação. E sabemos, não há progresso sem ação. Não há vitória sem atitude. O melhor não nasce pronto. A obra-prima não surge do primeiro contato com o pincel.

O grande inventor não acordou numa bela manhã e construiu a lâmpada elétrica. Com certeza sofreu centenas de “derrotas” antes de conseguir o que desejava. E foi justamente dele que surgiu a célebre frase:
“Gênio é fruto de 99% de transpiração e de 1% de inspiração.”

E nós, como nos comportamos? Estamos esperando a lâmpada elétrica na primeira, segunda ou terceira tentativa? Ou, nos achando “pacientes”, tentamos até a décima vez antes de admitirmos a derrota?

Hoje é fácil dizer que Edison era um homem genial. Mas será que a gente teria a mesma lâmpada elétrica hoje, caso ele tivesse desistido na décima tentativa? Caso ele tivesse sido derrubado pela autocrítica e desistido? Acaso saberíamos quem foi Thomas Edison, se ele tivesse duvidado de si mesmo?

E o que seria de Beethoven, se ele tivesse se revoltado e desistido das lições de piano impostas pelo pai? O que seria do jovem Einstein se ele saísse da escola, onde tinha notas medíocres, e se achasse incapaz de progredir nos estudos? Se ele se achasse menos que os outros?

É fácil julgar a história olhando de trás para frente. Mas quando as coisas acontecem, o êxito depende somente de cada individualidade, no momento em que ela decide qual caminho quer seguir. Não importa o tamanho do erro. Todos temos a escolha: continuar e aprender com o engano, ou nos lamentarmos e estagnarmos no abismo do remorso, da culpa e da autopunição.

Certo, alguns podem pensar que os chamados gênios tinham algo de especial. Então analisemos o esporte, por exemplo.

Hoje assistimos, maravilhados, um patinador deslizando sobre o gelo numa competição internacional. Ah, que dom! Imaginamos que ele nasceu com patins nos pés e apenas foi desenvolvendo a arte, certo? Ou será que ele caiu diversas vezes? Ou será que ele um dia já foi um iniciante, desajeitado? Será que ele já não foi motivo de vergonha para seus professores? Será que alguma vez ele já duvidou de si mesmo? Com certeza em algum momento ele fracassou. Mas, se hoje ele é um vencedor, foi porque soube perceber que não existem fracassos. O fracasso existe apenas na mente dos que não desejam progredir. Tudo pode resultar em aprendizado. E o aprendizado liberta.

Nós, seres “comuns”, o que temos feito de nossas vidas? É certo que todos cometemos erros. Mas como estamos reagindo diante dos nossos erros? Estamos afundando na autocrítica exacerbada, nas culpas paralisantes? Estamos deixando os patins de lado, pelos escorregões que tomamos? Tudo depende de nossa postura, das nossas escolhas.

E a vida ainda é tão maravilhosa que, quando decidimos ir em frente, quando estamos dispostos a enfrentar as conseqüências de nossos erros passados, encontramos sempre alguma ajuda. Se erguemos a cabeça, somos capazes de ver mais longe!

Saibamos transformar o estrondo da quebra num sinal de que há espaço para melhorar. Saibamos aperfeiçoar a segurança, após o Titanic; saibamos aperfeiçoar a engenharia, após o Hindenburg e a Challenger; saibamos aperfeiçoar os cálculos, após a Apollo XIII. O que está feito, está feito. Mas estagnar ou voar é uma opção nossa.

Eu, particularmente, prefiro aprender a voar. E com todos os meus erros, não desisto de tentar. Estou aqui nesse planeta para isso. Se a Natureza desejasse a perfeição pronta, sem esforço, a gente nascia já adulto.
Viver é aprender. O futuro não depende do que já aconteceu, depende do que fazemos hoje. É sempre tempo de fazer o nosso melhor!

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Ainda sobre o Amor

O Amor liberta.



O que de alguma forma nos prende, não é Amor. Pode ser uma simpatia, pode ser um gostar. Mas se não nos dá liberdade para ser o que somos, não é Amor.

O Amor não tem lista de direitos e deveres. Não assinamos um contrato quando resolvemos gostar de alguém. Contrato temos nos negócios, porque precisamos nos proteger quanto aos danos de uma má atitude alheia. A proteção é um escudo, uma armadura, um muro que limita a ação externa. Mas e o amor, que é uma troca, por excelência? O muro ajuda e evitar que o mal entre, mas também dificulta a entrada do bem. E se dificulta a entrada, dificulta a saída. Que troca é essa, que tem que driblar muros para existir?

Amar pede liberdade. Sem barreiras. Sem condições. Sem deveres.

Amar pede aceitação. Se não aceitamos, não amamos. As pessoas confundem as paixões com o amor. A paixão está fundamentada no desejo, no receber, nas ilusões do ego. O Amor não. O Amor é doação.

O Amor é. O Amor não depende. O Amor é paciente. Como diria Paulo na sua primeira epístola aos Coríntios: “O Amor é sofredor, é benigno; o Amor não é invejoso; o Amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.”

Quem vivencia o Amor verdadeiro, ganha asas para elevar-se acima das viciações humanas, colocando-se em templo seguro de paz, harmonia e felicidade.

O Amor nos faz sentir bem. Se o que pensamos ser Amor está nos deixando desequilibrados, angustiados, chateados, ressentidos... Melhor revermos os nossos conceitos e buscarmos o quanto antes a chave do cadeado, nos libertando das correntes, dos muros, dos escudos. Mas uma coisa é certa: precisaremos ter coragem. Coragem para mudar, para deixar o medo de sofrer. Precisaremos abrir mão do contrato. Será que é possível?

sábado, 16 de maio de 2009

AMAR

Por que será que é tão difícil para nós, amar?





Não falo aqui do que vulgarmente chamam de amor, como as paixonites voláteis e as atrações físicas disfarçadas, que movimentam o comércio no dia dos namorados e ilustram novelas e anúncios de motel. Chamam de amor o que na verdade é escambo: troca-se prazer, troca-se carinho, troca-se atenção, troca-se status, troca-se estima, troca-se dinheiro, troca-se compreensão, não necessariamente na mesma moeda. Alguém pode se sujeitar ao sexo para ter carinho, ao carinho para se ter sexo, ao sexo para se ter status, ao dinheiro para se ter atenção, e por aí vai. Mas há inevitavelmente o fator troca. Quando o fator troca se extingue, o “amor” morre. Como pode ser Amor, se é condicional? Eu amo, SE.... Ah, como eu posso amar SE.....?

Somos seres extremamente egoístas. Queremos que o outro satisfaça os NOSSOS desejos e nos empenhamos em achar alguém que esteja desejando dar aquilo que queremos receber. E por tempos até funciona, pois é comum que encontremos alguém que se encaixe ao perfil que procuramos. Vivemos a nossa idealização particular e nos deleitamos no desejo... Ah, o desejo... Tão embriagante!

Mas tempo surge em que a realidade nos chama. Puxa, o que estou fazendo? Ele é um fingido! Ela é uma interesseira! Ele não me ouve! Ela não me dá atenção! Ele não me respeita! E aí o “amor” quase sempre naufraga. Normalmente é uma atração passageira, mas não raro isso também acontece com casamentos, com uniões duradouras...

Amar é um exercício. É comum que pessoas mais velhas estejam mais aptas a amar do que os mais jovens, pois aprenderam e amadureceram ao longo da vida, normalmente com as desilusões. Também as mais velhas possivelmente passaram pela experiência de ter filhos. O amor maternal / paternal é um tipo de amor que ensina a natureza do que é Amar, verdadeiramente. É o amor que mais se aproxima com a renúncia e a incondicionalidade. Na teoria, uma mãe vai continuar amando seu filho, não importa o que ele faça. Na prática, sabemos que não é bem assim. Eu amo meu filho SE ele for obediente e SE ele fizer o que eu acho que é melhor para ele...

Estamos acostumados a viver na ilusão. Elegemos o que seria o “ideal” para a nossa vida e saímos em busca dessa ilusão com tanta força que nem nos damos conta que o tempo está passando e estamos ficando mais velhos. É comum vermos pessoas de idade madura em busca do mesmo prazer a que se dedicam os adolescentes, como mãe e filha juntas caçando amores “na balada”!

Será que as pessoas não amam porque não tiveram chance de encontrar alguém que valha a pena, como se costuma dizer? Duvido! Todos os dias encontramos pessoas maravilhosas em nossas vidas, mas estamos tão cegos por nossas ilusões que não as enxergamos. Só temos olhos para nós mesmos. Em relacionamentos, é muito fácil enxergar os defeitos alheios. É muito fácil perceber o que no outro está fora do que idealizamos. Somos PhD nas nossas próprias ilusões, sabemos direitinho o que é diferente do nosso ideal. Mas e a realidade? Mas e o que existe de bom no outro e que não alimenta as nossas ilusões? Não vemos. E nos culpamos por termos escolhido mal o parceiro, culpamos o acaso por ter colocado tal pessoa em nossa vida. Será que as pessoas se relacionam por um acaso? Ou será que temos sempre coisas a aprender uns com os outros?

Inevitavelmente a vida nos oferece exatamente aquilo que precisamos. Mas a gente não quer crescer, não quer aprender, não quer ser feliz. Queremos satisfazer os nossos desejos. Desprezamos o que não nos interessa. E se agimos assim, como acreditar que somos capazes de amar? Como acreditar que somos capazes de renunciar aos interesses pelo bem do outro? Difícil.

Estamos quase sempre tão cheios de nós mesmos que não temos tempo para ver o outro. E seguimos a vida assim. A sociedade no geral ainda defende os valores efêmeros, então por que se preocupar? Nos sentimos “normais” e isso é que importa. Nada como “experimentar” os relacionamentos, como se faz com comidas, com roupas, com objetos! Usamos enquanto nos agrada. Se não nos agrada mais, trocamos.

E o amor? Ora, isso fica sendo amor. Porque se for para deixar o egoísmo e ter que renunciar, ter que aprender, compreender, suportar, refletir e eventualmente até sofrer... melhor achar que o outro é problemático e fim de papo. Para amenizar, a gente fala que o problemático é a gente mesmo. Pronto. School´s out for Summer.

terça-feira, 7 de abril de 2009

O melhor

É sempre tempo de fazer o nosso melhor. O melhor de hoje pode não ser o mesmo de ontem. E o melhor de amanhã pode ser menor ainda que o de hoje.

O melhor se compreende no uso do espaço que temos disponível diante da nossa consciência. Se tivermos espaço para correr, então correr é o melhor. Se o espaço for pouco para nos movimentarmos, então o melhor é movimentar pouco. Se não há espaço, a sabedoria, que é o nosso melhor, é permanecer ciente de que a pausa também é necessária na jornada. A tormenta nos diz que devemos nos abrigar, mas também deixa claro que na bonança o dia se abre para recuperarmos o tempo perdido.

Tem dias que o coração anda apertado. Tem dias que o horizonte parece mais distante do que normalmente é. Tem dias que as flores do nosso caminho parecem fugir aos nossos olhos. Que besteira, acreditar que as flores podem se mover. Mas, com o coração apertado, a gente acredita em muita besteira.

Na verdade, tudo o que a gente precisa é um pouco de amor para curar as feridas. Mas... Tem dias que o pouco de amor não está em nosso caminho. Nem as flores, nem a bonança. E a gente tem que seguir mesmo assim, fazendo o nosso melhor.

Que fique aqui, então, o melhor de hoje, que é escrever esse pouco. Do pouco que se tem, entre o muito que se deseja e o infinito vazio dos dias de tormenta.


domingo, 22 de março de 2009

Coragem

Já falei sobre a coragem em outras oportunidades, mas acredito que nesse momento o tema esteja sendo mais necessário e mereça um texto só para ele.

Coragem... Numa interpretação mais imediata, a palavra coragem nos remete à figura de atitudes intrépidas, de homens que enfrentaram a morte no campo de batalha, de pessoas que desafiaram o perigo para salvar algo ou alguém. Ou então, coragem nos lembra os esportes radicais, as façanhas físicas de pessoas em busca de emoções intensas. Curioso notar que muitas vezes o conceito comum de coragem se misture com o conceito de imprudência. O que é coragem para uns, é imprudência e falta de bom senso para outros.


Coragem também nos lembra os santos e heróis, pessoas de espírito resoluto que enfrentaram as convenções do mundo com firmeza e deixaram um legado de excepcionalidade. Coragem nos lembra os grandes conquistadores, os mártires, os reformadores, os revolucionários. Che Guevara, Gandhi, Martin Luther King, Abraham Lincoln, Tiradentes, Joana d’Arc, Marco Pólo, Paulo de Tarso, Napoleão, Lutero, Karl Marx, Alexandre, O Grande, Simon Bolívar, Madre Tereza, entre outros.

Contudo, existe uma coragem que foge aos louros do reconhecimento, uma coragem que não consta nos livros de história e na tradição oral das civilizações. Uma coragem que não traz ao mundo grandes mudanças, não contraria as regras da sociedade e não repercute nos noticiários. Uma coragem anônima, cujos resultados vivem quase que exclusivamente dentro do coração de quem a possui. É dessa coragem que eu gostaria de falar aqui.

Viver nesse mundo não é tarefa fácil. Não só pelos desafios que a sociedade humana nos impõe, como a violência, a fome, a poluição, a desonestidade. Mas pelos desafios íntimos de cada dia, pelas tarefas que temos que desempenhar no nosso cotidiano, pelo exercício de nossa vontade.

Na vida adulta, muitas são as responsabilidades e deveres, que não se limitam à esfera material. Temos, pela consciência própria, um mundo de escolhas que nos pedem atitudes corajosas, porque estamos acostumados com o caminho mais fácil. Nosso histórico como seres humanos nos impulsiona naturalmente ao egoísmo, ao orgulho, à vaidade, à indiferença, ao abuso, à violência, à preguiça, à procrastinação, à vantagem pessoal, ao julgamento alheio, à promiscuidade, à ociosidade. Romper com esses padrões não é atitude simples, mesmo porque as nossas falhas em seguir a nossa consciência não são testemunhadas por ninguém. Nossos desvios podem sempre nos levar à auto-indulgência, afinal de contas, “ninguém é perfeito”.

É sempre preciso coragem.

Coragem para aceitar uma opinião alheia. Coragem para admitir os próprios erros. Coragem para fazer o que é certo. Coragem para admirar as virtudes dos outros. Coragem para pedir desculpas. Coragem para fazer o trabalho que nos cabe.

Coragem para amar os outros. Coragem para expressar amor. Coragem para seguir os impulsos do coração. Coragem para olhar nos olhos. Coragem para dar carinho. Coragem para receber carinho. Coragem para dizer que ama.


Coragem para amar a si mesmo. Coragem para aceitar aquilo que somos. Coragem para cuidar do próprio corpo. Coragem para aprender. Coragem para se fazer o que gosta. Coragem para ser feliz sem pensar na opinião alheia.

Coragem para começar um novo dia. Coragem para deixar o passado ir embora. Coragem para acreditar e construir um futuro melhor. Coragem para viver o presente.

Coragem para enfrentar a morte de alguém querido. Coragem para acreditar que a vida continua sempre. Coragem para enfrentar as doenças, os vícios e os infortúnios da sorte. Coragem para amar a vida, do jeito que a vida é.

Coragem para ser amigo. Coragem para confiar nos outros. Coragem para ser sincero. Coragem para dizer a verdade. Coragem para compreender. Coragem para aceitar o outro como o outro é. Coragem para não julgar.

Coragem para ser honesto. Coragem para dar o exemplo. Coragem para assumir o risco de errar. Coragem para assumir o risco de acertar. Coragem para assumir o risco de viver.

Coragem para acreditar que existe um Pai que nos ama.

Coragem, coragem, coragem.

Desejo a todos vocês que a coragem seja uma companheira em suas vidas.
Desejo que, por mais minguada que esteja a esperança, vocês acreditem que o amanhã há de ser melhor.
Desejo que vocês possam viver cada dia com a alegria que lhes é merecida.

Nada como um dia depois do outro.

domingo, 1 de março de 2009

Sonhar

Uma conversa alguns dias atrás motivou esse post. Adoro viajar. Para mim, há uma magia enorme em lugares onde a natureza é bela. Quando visito um lugar desses que ainda não conheço, parece que as memórias, conforme são produzidas, ficam impregnadas pela energia positiva da experiência. Toda vez que eu toco nessas memórias, a sensação de estar naquele lugar bonito revive.

Não estou numa fase propícia a viagens, por uma série de fatores, mas nem por isso deixo de querer viajar. Ao contrário, a viagem passa e ser o sonho próximo, o desafio que me faz desejá-la ainda mais.

Eu conversava sobre uma viagem com uma pessoa que, assim como eu, não se encontra numa fase propícia a viagens. Achou graça, até, na idéia de viajar agora: “Querer eu quero, poder é outra coisa” disse. Concordo em grande parte, como usualmente se concorda com uma colocação sensata e ponderada. Mas existe algo mais do que a ponderação no coração humano.
“Que tal sonhar?” perguntei. E na sequência, eu disse uma frase que me fez pensar:

“Quem diz o que a gente pode ou não pode é o tamanho dos nossos sonhos”.

Obviamente que o outro lado achou “mais ou menos” a minha frase, com certa razão. Mas eis aí a essência dessa história toda: que é a razão, sem o sonho? É uma ferramenta subutilizada, um caminho sem direção. A gente vive escravo da razão, como se ela nos bastasse para determinar a nossa vida. Que engano!

Existe dentro do ser humano uma força inexplicável, capaz de feitos que a própria razão tem dificuldade de explicar. O sonho é uma das coisas que desperta essa força. O desejo de algo novo, um desafio, uma coisa boa a se alcançar, é um impulso capaz de organizar os nossos recursos de uma maneira impressionante, muitas vezes intuitiva. Corpo, razão, coração e espírito caminhando juntos! Por si só, atingir um objetivo com essa composição de forças já seria muito mais eficiente do que se movimentar somente por meio de uma razão bem preparada. Além disso, existe um “algo mais”, uma magia única que acompanha a arte de sonhar, nos levando a horizontes mais dilatados da nossa existência.

Sonhar é o que nos dá direção, o que nos abre as portas fechadas pelo nosso senso das possibilidades. Sonhar é o que abre caminho para tranformar o que nos afigura como impossível. Algum dia, em algum tempo, o homem ousou sonhar em voar, em ir a Lua, em curar doenças, em construir máquinas. Coisas que foram consideradas impossíveis pelos “donos do saber” e seus idealizadores foram por isso perseguidos e rotulados pejorativamente de sonhadores.

Do grande ao pequeno, é o sonhar que move o homem. Por isso, não importa o que as circunstâncias estejam lhe dizendo. Quanto maiores os nossos sonhos, quanto maior for o nosso desejo e o nosso comprometimento com uma idéia, maior a possibilidade deles acontecerem porque o nosso espírito vai estar vendo além das barreiras, além das nossas limitações. Essa visão ampliada é o que melhor seleciona os nossos próprios recursos e forças para se atingir o objetivo.

Por isso, ouse SONHAR, SEMPRE!


Para ilustrar, selecionei algumas citações que percorrem esse universo. As frases estão conforme original em inglês, mas você pode checar a tradução Tabajara logo abaixo.

1- “Hold fast to your dreams, for without them life is a broken winged bird that cannot fly.” Langston Hughes

2- “Whatever you can do, or dream you can, begin it. Boldness has genius, power, and magic in it.” unknown*

3- “You can choose to blame your circumstances on fate or bad luck or bad choices. Or you can fight back. Things aren't always going to be fair in the real world. That's just the way it is. But for the most part, you get what you give. Rest of your life is being shaped right now. With the dreams you chase… The choices you make....and the person you decide to be. The rest of your life is a long time. And the rest of your life starts right now.” unknown

*Frase atribuída a Goethe, mas sem comprovação.

Tradução Tabajara:
1- “Agarre-se a seus sonhos, pois, se eles morrerem, a vida será como um pássaro de asa quebrada, incapaz de voar."

2- “O que quer que você possa fazer, ou sonhar que pode, comece. Ousadia tem genialidade, poder e mágica em si mesma.”
3- “Você pode escolher colocar a culpa por sua situação no destino ou má sorte ou más escolhas. Ou você pode reagir. As coisas não serão sempre justas no mundo real. É assim que as coisas são. Mas para quase tudo, você recebe o que você dá. O restante da sua vida está sendo formado exatamente agora. Com os sonhos que você busca... as escolhas que você faz... a pessoa que você decide ser. O resto da sua vida é um tempo longo. E o resto da sua vida começa exatamente agora.”

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Paradigma

É a nossa racionalidade - nosso intelecto, nosso sistema lógico, entre outros sinônimos - em ação pelo nosso cérebro, que costuma nos dar as diretrizes e nos fazer sentir seguros na vida.

É o saber que tem prioridade. Nosso ego, tão proeminente, sabe tudo. E se, por acaso, erra, encontra uma razão para isso. Que falácia tão bem construída a que nos acostumamos, que ilusão de poder! E o nosso coração? Assiste calado aos mandos e desmandos, procurando, como um cão, abanar o rabinho quando o papai racional aprova suas atitudes.

Será que vale a pena?

Na figura abaixo, o ponto A tem exatamente a mesma cor que o ponto B.

Você discorda? Reclame com o papai sabe tudo.

Essa ilusão de poder piora com a idade. Quanto mais velhos, mais domesticados, mais presos ao nosso próprio julgamento ficamos. O conformismo com a nossa auto-imagem aumenta.

"É... a casa que julgava perfeita tem suas falhas... tem vazamentos, buracos no telhado, fissuras nas paredes... Mas é uma boa casa, me abrigou quando precisei. Mudar? Para que?Está bem assim. Afinal, cachorro velho não aprende truques novos, diz o ditado. "

"Whether you think you can or whether you think you can't, you're right." Henry Ford

"Se você acha que pode ou se você acha que não pode, você está certo."

domingo, 8 de fevereiro de 2009

In-gratidão

Acordamos pela manhã. Alguns, com a sorte de terem contado com o acalento de uma pessoa companheira, durante a noite. Mas praticamente todos estivemos sobre uma cama confortável, abrigada do frio. Essa cama permanece debaixo de um teto, que pode ser de uma casa grande ou modesta, própria ou de outros. Só por essas condições, já seríamos privilegiados. Mas a palavra privilégio não usamos para isso, não é mesmo?
Temos água quente para um banho. Temos roupas confortáveis, bonitas. Temos algo para comer, desde o simples, como uma fruta, até itens realmente sofisticados.


Vamos ao trabalho. Para muitos, trabalhar chega a ser um peso, um mal necessário. Para outros, é uma grande satisfação. Em ambos os casos, existe um emprego que paga as contas, o que é um privilégio, nesses tempos modernos. Contas, aliás, da internet rápida, da TV a cabo, da água encanada, da eletricidade. Ora, o que tem demais, ter uma internet rápida? É uma necessidade, diriam alguns. Mas seus olhos, não dizem nada. São meros escravos, esquecidos. Quem é que fica feliz por ter olhos que enxergam? Quem é que fica feliz porque consegue ler, consegue apreciar um jardim, um sorriso de uma criança? Não, não se pensa nos olhos. Nem nas mãos que são capazes de digitar, de trabalhar, de acariciar, de ajudar. Ora, o que tem demais, ter mãos? Todos têm mãos... Não é? E pernas, e braços e pés.

Trabalhamos o dia todo. Em algum momento, somos defrontados por um chefe ingrato. Ah, que absurdo! Trabalhamos tanto, fizemos a tarefa com tanto cuidado, do jeito que ele pediu! Mas ele não quis saber. Nos criticou, nos ofendeu. Não percebeu a nossa dedicação, a nossa aplicação. Como é injusto esse mundo, né?
Voltamos para casa cabisbaixos, pensando dentro do carro enquanto ouvimos um pouco de música para descontrair. Que dia horrível hoje – pensamos. Pensamos, enquanto ouvimos e dirigimos.

Chegamos em casa chateados, rememorando os insultos que nos foram ditos. Ficamos irritados quando a pessoa companheira, que nos aguarda em casa, pergunta se lembramos de passar no supermercado. Supermercado! Com tanta coisa na cabeça, será que não percebe que isso não tem a menor importância agora? Quanto egoísmo, não vê que não estou bem? – pensamos. E ficamos em nossos pensamentos, presos no orgulho ferido, na pena de nós mesmos. Se temos filhos pequenos, e nessa hora algum deles apronta algo errado... Ah, que inferno! Já não basta o dia difícil no trabalho? Talvez bastasse. Assim como bastaria, para alguns, a possibilidade de ter filhos. Filhos pequenos, que nos amam.

O horário avança, e estamos famintos. Comemos algo para tapear, porque não passamos no supermercado para providenciar o jantar. Que infelicidade! Lemos um pouco. Um livro, alguma coisa na internet. Ficamos sabendo dos acidentes, dos políticos corruptos, dos assassinatos. Uma criança foi vítima de uma bala perdida e morreu antes de chegar ao hospital. Que mundo injusto! Hoje o dia está carregado!

Tomamos mais um banho quente, antes de dormir. Deitados na cama, calados, mal dizemos boa noite à pessoa ao nosso lado. Ainda não conseguimos aceitar o fato de que fomos maltratados sem causa. Procuramos uma razão para isso. Deve existir uma razão, afinal, nada acontece por acaso. Que pensamento filosófico, bonito, não é? Deus, se você existe, veja o que pode fazer por mim porque estou sendo humilde, não vê? Estou querendo aprender!

Nada acontece por acaso! Acontece. A-con-te-ce. Um dia inteiro de acontecimentos, que não foram por acaso. Será que é em relação a esse dia inteiro de acontecimentos que estamos pensando? Será que é isso que estamos levando em consideração com a nossa filosofia de fundo de quintal? Não, com certeza não. Estamos indignados com um único fato, que chamamos de injustiça. Nos comportamos como vítimas e nos sentimos importantes, assim, como vítimas. Vítima é aquele que sofre a ação de outros, ou seja, não tem responsabilidade. Nosso ego adora dizer que não teve responsabilidade, que é inocente. Adoramos ser vítimas, e ficamos rememorando os infortúnios ad eternum. Isso quando não os criamos! Afinal, somos humanos!

Vivemos insatisfeitos. Eu tenho saúde, mas estou cansado dessas dores de cabeça. Tenho dinheiro para pagar as contas, mas não posso ir para Paris passear. Tenho uma pessoa companheira que me ama, mas ela tem defeitos que eu não suporto. Tenho filhos saudáveis e que me amam, mas eles não me obedecem! Tenho uma casa, mas ela está precisando de reformas. Tenho amigos, mas eles não me ligam! Tenho olhos, mas ultimamente preferia não ver tanta pobreza! Tenho um carro, mas é velho e vive com problemas. Tenho um trabalho, mas odeio o que faço.

Tão fácil de ver o que não está certo, não é mesmo? “O que não está certo”, dizemos. Porque as bençãos que a vida nos cobre não são nada demais. São obrigações. Se existe um Deus, um Pai, Ele não faz mais do que Sua obrigação, nos dando o “básico”. A vida tem que ser do jeito que a gente quer e o mundo deve servir aos nossos caprichos. Caso contrário, seremos infelizes. - Viu, Deus, serei infeliz! Porque Você não me ouve! Estou cansado de orar e não ser atendido.

A vida é injusta. Por que tantos problemas? Melhor seria não ter que viver.

Responsabilidade? Gratidão? Alegria por estar vivo? O que é isso? Será que um dia ainda vamos descobrir?

sábado, 31 de janeiro de 2009

Ilusões II

Tantos caminhos que se abrem aos nossos olhos... Direita, esquerda, ao alto, à frente. São tantas as escolhas da vida! A cada segundo temos que escolher algo. Agora escolho eu as palavras que melhor cabem a descrever as idéias, enquanto aquele que está a lê-las escolhe se vai parar a leitura ou pensar sobre elas.

Às vezes as escolhas são fáceis, às vezes nos dão a impressão de que somos incapazes de fazê-las. Nos parece fácil escolher quando não nos importamos muito com as consequências de uma escolha. Quando existe alguma importância, fica fácil decidir se nos sentimos capazes de discernir mais claramente as consequências, principalmente quando as positivas nos parecem maiores. Nos parece claro que as facas afiadas devem ser manuseadas com cuidado. Nos parece claro que escovar os dentes é bom para nós.

Mas para uma criança pequena? É comum vermos crianças brincando com facas ao mesmo tempo em que acham um sacrifício ter de escovar os dentes. A avaliação que elas têm da realidade e de suas consequências é condicionada ao seu pouco conhecimento. Analogamente acontece o mesmo conosco.

Esse equívoco de avaliação não ocorre somente pela falta de conhecimento, mas pela interferência do orgulho e das emoções desequilibradas. O ser humano tem uma habilidade imensa em acreditar-se senhor do conhecimento, como se sua inteligência aliada ao trabalho aplicado e à experiência pudesse torná-lo especial. Esse excesso de confiança e de auto-importância acaba se tornando arrogância, mesmo que seja uma arrogância sutil, revelada em pequenas escolhas. Essa arrogância em achar que temos as respostas é que nos faz fracos e, como crianças, nos deixam mais suscetíveis aos erros de avaliação. Quantas vezes nos lançamos a atitudes repentinas, por acharmos que estamos fazendo o “certo”? Ou, da mesma forma, quantas vezes nos lamentamos por uma atitude benéfica, por acharmos no momento que ela foi “errada”?

Nos comportamos como senhores do conhecimento, completamente dependentes ao que nos faz “sentido”. Poucas vezes nos comportamos como os ignorantes que realmente que somos, conservando uma abertura maior para outras possibilidades. Somos escravos da nossa imagem da realidade, que é fruto de uma interpretação. Por mais vasto que seja o nosso conhecimento, ele é uma pequena fração da realidade, fruto de nossa criação, de nossa cultura, de nossa sociedade. Somos seres que criamos ilusões e que as seguimos cheios de orgulho. E quando nos ferimos, empurrados pela realidade que não se enquadra no nosso quadro ilusório, é comum que culpemos ao acaso, aos outros, a Deus, porque queremos continuar iludidos. Ou então, quando de fato percebemos o nosso equívoco, a culpa desce sobre nós mesmos, paralizando a caminhada.

Nesse contexto das escolhas normalmente entram as emoções desequilibradas. São elas que nos impulsionam ainda mais fundo nas nossas ilusões, seja pela auto-destruição (por não sermos capazes de atingir o que desejamos), seja pela busca desenfreada pelo prazer (o que supostamente nos afastaria do sofrimento).

Um Mentor de uma casa espírita que frequento usa uma imagem muito bela para descrever essa situação. Ele diz que a ilusão e a realidade são como duas vastas cadeias montanhosas que seguem paralelas. Normalmente nós nos acostumamos a andar pelas montanhas da ilusão, ignorando os ventos que nos empurram para a realidade. E quando um acontecimento mais significativo ocorre e nos desloca em direção à realidade, caímos num local cuja nomenclatura usada pela psicologia foi inspirada na geografia: entre cadeias montanhosas, uma depressão.

Ah, como a vida poderia ser mais simples! O quanto nos fazemos escravos do nosso orgulho! Quanto sofrimento criamos para nós mesmos! Nos debatemos como mariposas buscando avidamente a lâmpada, nos ferindo, junto com todos, sem perceber a importância das asas que temos... Sem perceber que existe dentro de nós uma Voz que nos orienta...

Como vítimas ou juízes do mundo, não percebemos ainda a nossa grandeza real. Sofremos pela nossa estreiteza mental, como crianças brincando com facas afiadas ou fugindo das escovas de dente.

Na nossa sociedade, não compreendemos o que é o Amor. Achamos que sabemos o que é, colocando-o nas baixas posições de nossas ilusões.

O Amor é a Luz verdadeira que há de nos compensar a ignorância e a falta de visão, aperfeiçoando os nossos sentidos e a nossa inteligência.

Quanto mais as nossas decisões forem baseadas no Amor, mais segura será a nossa caminhada, pois o Amor nos aproxima do que é real. Nossa tarefa está em ter a coragem de amar, conscientes da nossa insignificância. Pois quando amamos, de fato, surge em nós uma Força inexplicável que é mais poderosa do que o mais brilhante dos pensamentos. Uma Força que é Única, muito além do que imaginamos que seja, nos impulsionando para a nossa felicidade - felicidade real, e não o que pensamos ser felicidade.

Amor e coragem, a chave para decidir!

domingo, 25 de janeiro de 2009

Ilusões

Pensei um muitas coisas para escrever, mas o tempo tem sido escasso para produzir um bom texto. Assim, deixarei as borboletas voando sobre o jardim.

Volto depois, com o meu quadro de palavras.

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René Magritte. La Condition humaine. 1933

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Alberto Caeiro - O Guardador de Rebanhos

XLI - No Entardecer

No entardecer dos dias de Verão, às vezes,
Ainda que não haja brisa nenhuma, parece
Que passa, um momento, uma leve brisa...
Mas as árvores permanecem imóveis
Em todas as folhas das suas folhas
E os nossos sentidos tiveram uma ilusão,
Tiveram a ilusão do que lhes agradaria...

Ah, os sentidos, os doentes que vêem e ouvem!
Fôssemos nós como devíamos ser
E não haveria em nós necessidade de ilusão ...
Bastar-nos-ia sentir com clareza e vida
E nem repararmos para que há sentidos ...

Mas graças a Deus que há imperfeição no Mundo
Porque a imperfeição é uma cousa,
E haver gente que erra é original,
E haver gente doente torna o Mundo engraçado.
Se não houvesse imperfeição, havia uma cousa a menos,
E deve haver muita cousa
Para termos muito que ver e ouvir...

sábado, 17 de janeiro de 2009

MEDOS

Meu primeiro texto corre paralelo ao de uma escritora, fotógrafa e nadadora muito especial. Ela é umas dessas pessoas que iluminam o caminho da gente, como presentes que a Vida nos oferece para que não nos percamos durante as noites escuras. Ler os seus textos é sempre uma inspiração.

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Há algo no medo que me traz tristeza. Não falo aqui do medo-sobrevivência, este que a
ciência explica como “uma reação em cadeia do cérebro que prepara o corpo para uma reação de fuga ou de luta”. Esse medo tem sua razão de ser e de certa forma é sempre útil a auto-preservação. Homens e animais dividem os mesmos mecanismos cerebrais, do tálamo ao hipotálamo.

Também não falo do medo da punição, como um mecanismo de ajuste social. Falo aqui do medo de viver, do medo de superar os obstáculos que nos afastam de uma vida mais feliz.

Transcrevo aqui um belo trecho sobre o medo
nas palavras de Rubem Alves:

“Somos iguais aos animais, em que as mesmas coisas terríveis podem acontecer a eles e a nós. Mas somos diferentes deles porque eles só sofrem como se deve sofrer, isto é, quando o terrível acontece. E nós, tolos, sofremos sem que ele tenha acontecido. Sofremos imaginando o terrível. O medo é a presença do terrível-não-acontecido, se apossando das nossas vidas. Ele pode acontecer? Pode. Mas ainda não aconteceu e nem se sabe se acontecerá.

Curioso: nós, humanos, somos os únicos animais a ter prazer no medo. A colina suave não seduz o alpinista. Ele quer o perigo dos abismos, o calafrio das neves, a sensação de solidão. A terra firme, tão segura, tão sem medo, tão monótona! Mas é o mar sem fim que nos chama: “A solidez da terra, monótona, parece-nos fraca ilusão. Queremos a ilusão do grande mar, multiplicada em suas malhas de perigo...“ (Cecília Meireles).

A pomba, que por medo do gavião, se recusasse a sair do ninho, já se teria perdido no próprio ato de fugir do gavião. Porque o medo lhe teria roubado aquilo que de mais precioso existe num pássaro: o vôo. Quem, por medo do terrível, prefere o caminho prudente de fugir do risco, já nesse ato estará morto. Porque o medo lhe terá roubado aquilo que de mais precioso existe na vida humana: a capacidade de se arriscar para viver o que se ama.

O medo não é uma perturbação psicológica. Ele é parte da nossa própria alma. O que é decisivo é se o medo nos faz rastejar ou se ele nos faz voar. Quem, por causa do medo, se encolhe e rasteja, vive a morte na própria vida. Quem, a despeito do medo, toma o risco e voa, triunfa sobre a morte. Morrerá, quando a morte vier. Mas só quando ela vier. Esse é o sentido das palavras de Jesus: “Aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á. Mas quem perder a sua vida, a encontrará.“ Viver a vida, aceitando o risco da morte: isso tem o nome de coragem. Coragem não é ausência do medo. É viver, a despeito do medo.”

Acredito que a raiz da minha tristeza em relação ao medo esteja justamente na opção que o ser humano faz por permitir que seja roubado aquilo que tem de mais precioso. Seria tão mais fácil ter coragem!! A dor de algo terrível, quando estamos buscando ser felizes, é devida a um acontecimento concreto – ao contrário do medo, que nos faz sofrer pelo que “poderia acontecer”. Ela nos debilita, mas nos ensina. Sabemos o que precisamos fazer para nos curar e trabalhamos para evitar que aconteça novamente. Passado o tempo de recuperação, estamos mais fortes e preparados para seguir adiante. Estamos mais próximos dos nossos desejos.

A criança que se rala aprendendo a andar de bicicleta está mais próxima de realizar grandes viagens e manobras do que aquela que tem medo de experimentar. E esse ralado, por pior que seja, vai cicatrizar com os cuidados necessários. Agora quem foge de seus desejos por medo de fracassar, muitas vezes vive um sofrimento muito maior do que provocariam as dores reais de um acontecimento desfavorável. Acaba desenvolvendo uma frustração silenciosa, um sentimento de incapacidade que afetará sua auto-estima e em alguns casos acabará por gerar remorso, culpa e auto-punição.

Ser “poupado” de algo ruim quando estamos buscando a nossa felicidade pode resultar em alguma vantagem, mas nunca vai proporcionar algo tão intenso quanto o sabor de uma vitória, o sabor da auto-superação e da atitude corajosa que nos colocou mais próximos de nossos sonhos.

Para ser feliz é preciso coragem. Na minha vida, me ralei e tropecei das mais diversas formas. Fisicamente, intelectualmente, emocionalmente. Continuo tropeçando. Sofri muito, como qualquer ser humano. Mas posso dizer que aprendi que a coragem é essencial. Fiz um acordo comigo mesmo: não cederei ao medo quando perceber que estou sendo dominado por ele. Enfrentarei, por mais não saiba como agir.

Não me arrependo.

E hoje, aprendi que a paisagem é muito mais bela quando temos coragem. O medo obstrui os nossos sentidos!

Coragem é a palavra do dia!

Início

Há muitos meses que esse espaço para idéias está com a estrutura pronta. A idéia de escrever sempre me motivou, porque as palavras são importantes veículos do pensamento e das emoções. Sempre escrevi para mim mesmo, porque o ato de escrever, mesmo que sem um destinatário exterior, é um exercício de auto-conhecimento e de organização das idéias e sentimentos. Não raro o ato de escrever se tornar uma terapia, ao promover a harmonização íntima de quem escreve por dar forma aos impulsos desordenados da mente e do coração. Isso acaba por promover a conscientização acerca do que nos aflige, facilitando a nossa compreensão e a solução de eventuais conflitos, ao mesmo tempo em que exalta as luzes do que temos de bom e que muitas vezes permanece à sombra da nossa consciência, oculto pela nossa auto-crítica e negatividade.

Saindo da esfera pessoal, temos que o ato de escrever, quando compartilhado, promove a aproximação das pessoas, de um modo geral, e mais especificamente o auxílio ou o acréscimo à bagagem daqueles que lêem, por exposição de sentimentos e pensamentos que pertencem a um determinado ser humano, diferente de qualquer outro. Nesse contexto que surgiu a idéia desse espaço. Não desenvolvo aqui pretensões literárias, caminhando entre os signos e siginificações da arte. Isso eu deixo aos escritores e poetas! Também não desejo criar adornos ao meu próprio ego. Aquele que escreve é apenas veículo das idéias, assim como a concha obscura é o lar de formosas pérolas.

Meu desejo – pretensioso, talvez – é compartilhar a beleza e as luzes que a vida me oferece. Possivelmente as nuanças são múltiplas e cada um possui suas próprias maneiras de ver a vida, mas espero que alguma coisa em minhas palavras possa servir para nos aproximar de um todo mais feliz e mais iluminado, um mundo em que nossos esforços sejam cada vez mais fraternos e nossas vidas, mais leves e alegres.

Hoje eu escrevo e amanhã serei história. Passarei, como passaram a carne e os ossos dos que me precederam. Contudo, as luzes das idéias e do amor permanecem pela eternidade. Enquanto a partida é inevitável, as escolhas são sempre facultativas. Minha luta é fazer de minhas escolhas oportunidades de se criar o bem comum, como uma centelha humilde de Amor Divino que passa por mim e se espalha ao meu redor. Para que, quando eu não mais estiver aqui, alguém possa lembrar-se de mim e sorrir: “Esse, pequeno, foi alguém que amou a vida, o mundo e as pessoas”.

Enfim, sejam benvindos ao meu espaço das idéias. Jovem e imaturo, mas nutre grandes esperanças!